Cumprindo agenda em Manaus, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e membros do Governo Federal dispensaram o uso de máscaras ao visitarem uma aldeia indígena da capital. Uma imagem publicada em rede social mostra todos os presentes sem o uso do acessório que protege contra o novo coronavírus. O uso de máscaras é obrigatório na cidade.
A foto em que ninguém usava máscaras foi publicada na segunda-feira (21) no perfil do presidente da Embratur. “Nada se compara ao nosso país quando o assunto é turismo de natureza, etnoturismo e sustentabilidade. Aqui na Amazônia, 97% da área do estado são de florestas preservadas. Gastronomia indígena inclui raízes, caças, pescado e formigas que, por sinal, são uma fonte farta de proteínas e uma iguaria”, disse na legenda da imagem.
Os Bolsonaro cumprem agenda na capital amazonense para fomentar ações do turismo na região, mesmo diante da pandemia de Covid-19. Na sexta-feira (18), em solenidade com a comitiva, o Governo do Amazonas anunciou a abertura da temporada de pesca esportiva no Rio Negro.
O encontro em que ninguém usou máscaras foi criticado por lideranças indígenas. Até esta terça-feira (22), a doença já havia infectado mais de 13 mil índios no estado – sendo mais de 8 mil não aldeados, e mais de 4 mil aldeados. Em todo o Estado, são mais de 132 mil casos da doença.
Os irmãos Bolsonaro aparecem em uma foto, ao lado de indígenas, junto do presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Gilson Machado Neto, do senador Irajá (PSD), secretário de Aquicultura e da Pesca do Ministério da Agricultura, Jorge Seif.
Ao G1, a Embratur confirmou a visita do presidente no Amazonas para “participar de um evento realizado pelo governo estadual para anunciar novidades relativas à promoção da retomada turística do estado” e disse que “todos cuidados contra o coronavírus, como o uso de máscara, foram tomados”. Sobre a imagem, a agência disse: “a foto em questão foi feita durante o momento de uma refeição típica, com formigas e peixes, oferecida aos visitantes pelo Cacique Dyakuru, também conhecido como Zé Maria”.
O uso de máscaras passou a ser obrigatório em Manaus, tanto em espaços públicos quanto privados, desde o final de julho e a medida prevê multa para quem descumprir. A capital, que sofreu colapso no sistema de saúde e enterrou caixões empilhados e em valas comuns na pandemia, voltou a apresentar aumento de casos e internações.
O G1 tenta contato com o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro sobre a situação.
Preocupação com índios
A visita da comitiva do governo foi vista com preocupação pelo Conselho Indigenista Missionário, órgão ligado à Igreja Católica do Amazonas e Roraima. Para o missionário Francisco Loebens, um dos membros do conselho, foi uma irresponsabilidade visitar uma aldeia desrespeitando todas as normas sanitárias de combate à Covid-19.
“Acho que, por parte das comunidades, das organizações indígenas, há uma preocupação no sentido de adotar todas as medidas necessárias para evitar o máximo da contaminação da Covid-19 pois são muito conscientes dos riscos que correm. E num contexto desse, você visitar uma comunidade indígena sem nenhuma necessidade, expondo essa comunidade à possibilidade de contrair o vírus, é uma absoluta irresponsabilidade. É você simplesmente desconhecer os cuidados básicos e um descompromisso total com a vida do outro, com a dos povos indígenas, que chega ao absurdo”, declarou.
O missionário também ressaltou que os povos indígenas são um dos grupos mais afetados pela pandemia no País, principalmente por conta de condições de atendimento, distâncias e falta de atenção imediata por parte das políticas públicas destinadas a esses povos na área da saúde.
“Por isso, todos os sensatos atendem ao pedido dos povos indígenas para que fosse diminuído todas as visitas, encontros e contatos para não aumentar o problema. Esse é o contexto e acho que precisa continuar esse esforço. Nesse caso aí, é de fato, o que se esperaria de pessoas inclusive que tem destaques em termos nacionais, do próprio governo, que se dê exemplo no sentido da preocupação com a vida dos demais”, disse.