O presidente dos Estados Unidos e candidato republicano à reeleição, Donald Trump, encerrou uma entrevista para o programa “60 Minutos”, atacou a entrevistadora, Lesley Stahl, e afirmou que está considerando publicar a entrevista antes de ela ir ao ar na televisão.
A duas semanas das eleições e atrás do candidato democrata nas pesquisas, Trump partiu para o ataque. Nos últimos dias, atacou o rival Joe Biden, a comissão de debates presidenciais e até Anthony Fauci, principal epidemiologista do país e conselheiro dos últimos seis presidentes americanos, inclusive Trump (veja mais abaixo).
O presidente dos EUA interrompeu a entrevista na Casa Branca após cerca de 45 minutos e afirmou à equipe do canal de televisão CBS que acreditava que eles já tinham material suficiente, segundo o jornal “The New York Times” e a CNN.
Trump também se recusou a participar do segmento “walk and talk” do programa (caminhar e conversar, em tradução livre), em que andaria pela Casa Branca ao lado do seu vice-presidente, Mike Pence, e a apresentadora.
A entrevista foi gravada na segunda-feira (19), para ser exibida no domingo (25). Na noite de terça-feira (20), o presidente americano afirmou em uma rede social que estava pensando em publicar a entrevista antes de ela ir ao ar na CBS “para fins de precisão” e “para que todos possam vislumbrar como a entrevista foi falsa e enviesada”.
O presidente também publicou um vídeo de 6 segundos da entrevistadora, Lesley Stahl, em que ela está sem máscara e conversa com duas pessoas dentro da Casa Branca, após o fim da entrevista, e escreveu que há “muito mais por vir”.
Uma fonte afirmou à CNN que o vídeo foi feito logo após a entrevista ser encerrada e que Lesley Stahl usou uma máscara desde o momento em que entrou na Casa Branca até o início da gravação.
Depois, em um comício na Pensilvânia, Trump disse a apoiadores que eles “tinham de assistir o que nós fizemos no ’60 Minutos'”. “Vocês vão se divertir muito com isso. Lesley Stahl não vai ficar feliz”.
O programa “60 Minutos”, da CBS News, é um dos mais famosos e importantes da televisão norte-americana.
Entrevista com Biden
O candidato democrata, Joe Biden, e a senadora da Califórnia Kamala Harris, sua candidata a vice, também foram entrevistados pelo “60 Minutos”. A previsão era que todas as entrevistas fossem ao ar no mesmo programa, no domingo.
Enquanto Biden e Harris gravaram suas entrevistas separadamente, Trump e Pence apareceriam juntos, como fizeram quatro anos atrás. Mas, após encerrar a entrevista, o presidente dos EUA não voltou para a gravação com Pence.
A entrevista com Biden foi feita pelo âncora do programa “CBS Evening News”, Norah O’Donnell. O candidato democrata não se pronunciou até o momento sobre a entrevista.
Trump no ataque
Atrás de Biden nas pesquisas eleitorais, Trump se tornou ainda mais combativo nesta semana, lançando acusações e insultos conforme o tempo se esgota. As eleições nos EUA estão marcadas para 3 de novembro.
O presidente dos EUA tenta ressuscitar suspeitas sobre Hunter Biden, filho de Joe Biden, e ligá-lo a negócios na Ucrânia e na China quando seu pai, era vice-presidente de Barack Obama (2009-2017).
O republicano também criticou a organização dos debates presidenciais nos EUA, que anunciou que vai cortar os microfones dos candidatos enquanto o adversário fala no próximo encontro. A medida foi tomada após críticas pelas interrupções do primeiro embate.
Na segunda, Trump chamou de “desastre” o Dr. Anthony Fauci, conselheiro de saúde de seis presidentes americanos e o principal epidemiologista do país, e se referiu ao especialista e outras autoridades de saúde como idiotas.
Fauci é o maior especialista em doenças infecciosas dos EUA e trabalhou diretamente com Ronald Reagan, George H.W. Bush, Bill Clinton, George W. Bush, Barack Obama e o próprio Trump.
O último presidente americano que não conseguiu se reeleger foi o também republicano George H.W. Bush, pai de George W. Bush.
Desacreditar a imprensa
Foi a terceira entrevista de Trump para Lesley Stahl. Além de 2016, quando ainda era candidato, o presidente americano conversou com a jornalista em outubro de 2018, também na Casa Branca.
A entrevistadora já disse no passado que Trump lhe confessou em 2016 que os ataques à imprensa eram uma estratégia. O então candidato à presidência dos EUA afirmou, em uma conversa não-gravada, que os ataques visavam desacreditar as histórias negativas sobre ele.
Segundo Stahl, Trump lhe disse: “Você sabe por que eu faço isso? Eu faço isso para desacreditar e rebaixar todos vocês, então, quando vocês escreverem histórias negativas sobre mim, ninguém vai acreditar em vocês”.