E eis que depois de uma longa espera, a HBO Max finalmente pousou no Brasil. Fruto da fusão entre Warner Media e AT&T, o serviço veio com o potencial para ser uma espécie de”Poderoso Megazord” das plataformas de streaming.
Isso porque, além de todo conteúdo da HBO, o serviço promete um vasto acervo do Warner Channel, filmes dos estúdios Warner Bros., New Line, DC Entertainment, CNN, TNT, TBS, truTV, TCM, Cartoon Network, Adult Swim, Crunchyroll,Rooster Teeth e de diversos outros canais e produtoras pertencentes à Warner Media, além das atrações do canal Discovery, com quem a Warner Media se fundiu recentemente. Além disso, há ainda filmes e séries “Max Originals”, produzidos especialmente para a plataforma – como a tão falada reunião de Friends e o sofrível “Liga da Justiça Snyder´s Cut”, entre muitos outros.
Pois bem, o serviço estreou por aqui, já trazendo uma coisa legal: um desconto de 50% no plano mensal, que permitirá ao usuário pagar R$ 9,90 no plano mobile e R$ 13,95 na versão multitela. E, o que é mais legal: esse valor será mantido por tempo indeterminado, enquanto a assinatura for válida. Além disso, como acontece com outros serviços de streaming rivais, o HBO Max criou parcerias com diversas empresas, como Claro, Mercado Livre, Vivo e TIM, que poderão integrar a plataforma em seus pacotes de ofertas.
Dito tudo isso, é importante citar: o serviço de streaming em si não reinventa a roda. Ele tem uma interface fácil de usar, mas que não se difere em nada de seus concorrentes. Inclusive, não tem recursos que outros já têm, como a possibilidade de realizar download dos filmes e séries para assistir no modo offline. As categorias das atrações também são genéricas (“Filmes que amamos”, “Produções brasileiras”, “Diversão em família”, etc), mas, no menu lateral, o conteúdo pode ser separado por estúdio (HBO, Max Originals, Warner, DC e Cartoon Network), o que é algo legal.
As legendas precisam de um melhor tratamento, com alguns erros básicos, mas nada que comprometa a experiência. E o serviço ainda não conta com uma ampla gama de conteúdos exclusivos, principalmente se compararmos com Netflix, Amazon Prime e Disney+. Já o sistema de sugestões não será analisado nesse momento, já que começamos a testar o serviço nesta terça-feira (29), então é cedo demais para dizer se funciona ou não.
E navegando pela HBO Max, dá para pescar muita coisa legal para assistir. Entre as séries, há clássicos como Sopranos, The Wire, Friends e Um Maluco no Pedaço, até sucessos mais recentes de público, como Game of Thrones, Chernobyl, The Big Bang Theory, Two and the Half Men, Gossip Girl e mais. Já entre os filmes, quase tudo da DC, a série Harry Potter, a primeira trilogia de O Senhor dos Aneis, Matrix e Onze Homens e Um Segredo, Um Sonho de Liberdade, os premiados documentários da HBO, entre outros. Sem contar os futuros lançamentos que a Warner promete liberar na plataforma ao mesmo tempo em que eles chegam aos cinemas, como o novo Matrix, Esquadrão Suicida, Duna, etc. Para completar, a WarnerMedia promete liberar outros conteúdos – novos e antigos – ao longo dos próximos meses por aqui.
E o “Poderoso Megazord” do streaming é uma ameaça para outros serviços?
Em uma análise rápida do serviço, não dá para dizer que você poderia trocar o Netflix, o Disney+ ou o Amazon Prime, pelo HBO Max e ser feliz. Nesse primeiro momento, ele funciona como um complemento (bem) eficiente para quem quer um vasto catálogo de filmes e séries à disposição para todas as faixas etárias. Hoje, o ponto forte da plataforma é o seu acervo de conteúdos mais antigos que, até hoje, são muito queridos pelo público.
Para ficar em um exemplo: em 2018, a Netflix chegou a pagar US$ 100 milhões a Warner para manter Friends em seu catálogo, já que a série era a mais vista pelos seus usuários e era fundamental para atrair novos assinantes. O catálogo da HBO Max é recheado de atrações que alimentam a nostalgia do público e aciona aquele gatilho que todos conhecemos: diante de um vasto cardápio de filmes e séries, gastamos um tempão escolhendo algum que nos agrade para, no final, assistir aquele conteúdo mais confortável e que já vimos milhões de vezes. Nesse quesito, o HBO Max ganha fácil de seus rivais.
No entanto, se o serviço ainda não se configura como uma ameaça real à concorrência, seu lançamento cumprirá uma outra missão – ainda que de forma indireta: ele deve ser a pá de cal que enterrará de vez o já decadente setor de TV de assinatura.
Para baixo…e avante!
Não é exatamente uma novidade que o mercado de TV por assinatura vem sofrendo há anos com a perda maciça de assinantes. O último levantamento feito pela Anatel, divulgada em junho, mostra que as operadoras do setor perderam 170 mil clientes por mês, de acordo com dados compilados até abril. É mais que o dobro do ritmo de perda média registrada no ano passado – com índice de desistência de 77 mil assinantes mensais.
Hoje, o Brasil tem 14,1 milhões de usuários desse serviço. Em 2020 eram 15,6 milhões de adeptos. Trata-se da base mais baixa desde agosto de 2012, quando havia 14,8 milhões de usuários. Isso equivale a apenas 6,6% do total da população do país, que tem 212 milhões de habitantes. Para efeito de comparação, 21,1% dos norte-americanos têm TV a cabo em casa – o que equivale 70 milhões de clientes em um país com 329 milhões de habitantes. De qualquer forma, a decadência do setor é um padrão mundial.
Muitos especialistas afirmam que o mercado de TV por assinatura precisa se reinventar, ainda que ninguém saiba muito bem como fazer isso. Hoje, os serviços de streaming demolem o setor, assim como fizeram com as videolocadoras. E não vamos esquecer que, como um pacote de TV a cabo não é exatamente barato, as operadoras enfrentam ainda o problema de pirataria, principalmente via IPTV (e os famigerados TV Box).
Além disso, com a ascensão do streaming, as produtoras de séries, bem como os estúdios de filmes, resolveram concentrar seus lançamentos nesse formato – principalmente em uma época de pandemia da Covid-19, quando as salas de cinema permaneceram fechadas em boa parte do tempo. Com isso, filmes e séries ganharam muito mais destaque no Netflix, HBO Max, Disney+ e outros, do que na TV a cabo ou em seus serviços de aluguel – uma tentativa a mais de gerar receita.
E por que o HBO Max deve enterrar de vez a TV a cabo no Brasil?
Porque a WarnerMedia era a única a não contar com um serviço próprio de streaming para exibir suas atrações por aqui. Ao contrário de outros estúdios, ela possui um número suficiente de filmes e séries que justifica contar com uma plataforma própria. E ter em seu portfólio marcas como HBO, TNT, Cartoon Network, Discovery e DC faz com o que o HBO Max seja bom o suficiente para não ficar atrás de nenhum pacote de TV a cabo.
E, claro, há o fator financeiro: hoje, se você assinar o Netflix (R$ 45,90), Amazon Prime (9,90), Disney+ (27,90) , HBO Max (R$ 13,95 na promoção de lançamento) e Globoplay (R$ 49,90), serão gastos R$ 147,55. Uma quantia salgada para muitos bolsos, claro. Mas, com esse valor pago em serviços de streaming, o usuário terá acesso a um gigantesco acervo de filmes e séries, de quase todos os principais estúdios, incluindo eventos esportivos. Para ter isso em um pacote de TV a cabo, o valor é, no mínimo, o dobro. E mesmo assinando serviços extras de streaming, como Paramount+ (R$ 19,90) e Starzplay (R$ 14,90), o usuário gastará menos do que o cobrado pelas operadoras de TV por assinatura.
Sim, a matemática é cruel.
Ah sim! E não podemos esquecer que é possível customizar esse pacote de streamings, cancelado qualquer um deles quando você quiser. E voltar quando quiser. Algo que na TV por assinatura é quase impossível.
Para completar o cenário trágico para as operadoras de TV a cabo, até mesmo as fabricantes de TVs, paradoxalmente, jogam contra. Hoje, todas as smart TVs já trazem aplicativos dos serviços de streaming pré-instalados ou oferecem a possibilidade de baixá-los. E mesmo nos modelos mais antigos, você pode usar dispositivos como o Chromecast para transmitir o conteúdo da HBO Max, Netflix e cia, usando seu smartphone. E nem vamos falar de videogames atuais, que também permitem isso.
Então, qual é futuro da TV a cabo?
Seria leviano dizer que a TV a cabo desaparecerá. Mesmo perdendo assinantes em ritmo acelerado, sempre haverá um público mais conservador, que gosta de manusear seus canais e programas “à moda antiga”. O que parece ser mais provável é que o número de usuários caia ano após ano, até termos uma base de três ou quatro milhões (ou menos), mantendo-se estagnado nesse patamar.
Além disso, nem todo o Brasil conta com acesso estável a internet, essencial para uma boa experiência em streaming. Com isso, serviços como a Sky, que usa tecnologia via satélite, ainda são bastante necessários. A internet via satélite cresce a passos lentos no país e não é para todos os bolsos. Logo, ainda há uma parcela do público que usará a TV por assinatura por pura necessidade.
Logo, não dá para dizer que a TV por assinatura seguirá o mesmo caminho das videolocadoras ou das lojas de CDs. Mas é muito provável que ela vire um serviço de nicho e caberá às operadoras decidirem se vale a pena seguir investindo.
Uma planilha em algum relatório financeiro trimestral no futuro responderá essa questão.