Dados genéticos ligam origem da pandemia de Covid-19 a cães-guaxinim na China

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Dados genéticos do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) vinculam a origem do SARS-CoV-2 a cães-guaxinins vendidos no mercado atacadista de Huanan, em Wuhan — mesmo local onde foram registrados os primeiros casos de Covid-19 antes do início da pandemia.

A informação foi divulgada esta semana por um grupo de cientistas independentes à Organização Mundial da Saúde (OMS).

O que se sabe até aqui

  • Os dados genéticos foram coletados por cotonetes no mercado pela CDC chinesa em janeiro de 2020.
  • Sua existência já era conhecida, assim como o fato das amostras serem positivas para o SARS-CoV-2. 
  • Somente no fim de janeiro de 2023, cientistas chineses enviaram dados genéticos adicionais presentes nos cotonetes para um banco de dados genético público (o GISAID), revelou a OMS.
  • Esses dados que não haviam sido divulgados antes (e já foram removidos) indicam amostras positivas para Covid-19 e também continham material genético de animais, a maioria ligada aos cães-guaxinim.

Cães-guaxinim são animais parecidos com raposas. Seu rosto é bem-parecido o dos guaxinins.

Cães-guaxinim são animais parecidos com raposas e rosto bem-parecido com o dos guaxinins. Suscetíveis à infecção por SARS-CoV-2, eles eram vendidos no mercado. Essa mistura de material genético do vírus e um animal suscetível — justamente no epicentro do surto da doença —, fornecem evidências que podem ajudar a entender que a origem da pandemia pode ter sido por transbordamento (quando um vírus ou micróbio conseguiu se adaptar e migrar de uma espécie para outra).

  • Em um cenário de transbordamento, o vírus poderia ter saltado para os humanos de seu reservatório em morcegos por meio dos cães-guaxinim, que seriam considerados um hospedeiro intermediário. 
  • Segundo os cientistas, é assim que muitos vírus de animais se movem para humanos, particularmente os coronavírus relacionados ao SARS-CoV-2. 
  • Outra hipótese era de uma possível violação de biossegurança, ou seja, que a doença vazou de um laboratório chinês. 
  • Após o surto de SARS em 2003 causado pelo SARS-CoV- 1, dados já sugeriram que animais selvagens, incluindo o mesmo cão-guaxinim, agiam como hospedeiros intermediários.
  • Outro coronavírus, o MERS-CoV, ou síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS), também é conhecido por se espalhar para as pessoas por meio de camelos e dromedários.

Por enquanto, os dados genéticos recém-descobertos ainda não foram disponibilizados ao público. O The Atlantic foi o primeiro a noticiar a descoberta na última quinta-feira (16). A OMS confirmou em uma coletiva de imprensa na sexta (17) que soube dos dados pela primeira vez no último domingo. Na terça-feira, o Grupo Consultivo Científico da agência para as Origens de Novos Patógenos foi acionado para avaliar o caso de perto.

Na reunião, cientistas internacionais conseguiram baixar os dados antes de serem removidos do banco de dados e apresentaram sua análise preliminar. Relatos da mídia apontam que os dados foram retirados do ar justamente após os cientistas entrarem em contato com o CDC da China em busca de mais informações.

Florence Débarre, especialista em biologia evolutiva no CNRS, a agência nacional de pesquisa francesa, foi quem descobriu os dados no GISAID no início de março, antes de serem removidos.

”A grande questão agora é que esses dados existem e não estão disponíveis para a comunidade internacional. Isso é, antes de mais nada, absolutamente crítico, sem falar que deveria ter sido disponibilizado anos antes”

Vale recordar que ao longo das investigações sobre as origens do SARS-CoV-2, a China lançou uma hipótese duvidosa de que o vírus surgiu longe das suas fronteiras, sugerindo até que ele foi levado ao mercado de Huanan por alimentos congelados importados. As sugestões de um possível vazamento de laboratório foram negadas, bem como a existência de qualquer animal selvagem no mercado de Huanan que pudesse ter agido como hospedeiro intermediário.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, também mostrou frustração, enfatizando que a agência voltou a pressionar a China por mais transparência.

Esses dados poderiam — e deveriam — ter sido compartilhados três anos atrás (…) Continuamos a pedir à China que seja transparente no compartilhamento de dados e conduza as investigações necessárias e compartilhe os resultados. Entender como a pandemia começou continua sendo um imperativo moral e científico