Golpe atrás de golpe: estelionatos mais que quadruplicam em 5 anos

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número de estelionatos no Brasil mais que quadruplicou nos últimos cinco anos: em 2022, foram registrados 1.819.409 casos do crime, 326% a mais que em 2018, quando ocorreram 426.799 registros.

  • Foram 151,6 mil casos por mês;
  • Quase 5 mil por dia;
  • 208 golpes por hora;
  • E cerca de 3,5 registros de estelionato por minuto no ano passado;
  • O aumento foi de 38,5% nos últimos dois anos, já que em 2021 foram 1.312.964 casos.

Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, uma pesquisa feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e divulgada nesta quinta-feira (20).

“Imaginávamos que iria crescer porque, desde 2018, o crescimento tem sido sempre com incremento exponencial, quase dobrando a cada ano. Num intervalo de cinco anos, você tem uma mudança importante. Essa mudança se dá por um conjunto de fatores e que é internacional. Não é exclusividade do Brasil”, explicou Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do FBSP e professor da FGV-EAESP.

Além do estelionato comum, o país registrou um aumento ainda mais expressivo em relação ao crime cometido por meio eletrônico, fruto da pandemia de Covid-19. Em 2021, houve 120.470 registros; em 2022, foram 200.322 casos, um aumento de 66,2%.

“É uma tendência que começa muito pela pandemia, período em que as pessoas ficaram em casa e a integração das pessoas era online. Sem carro na rua, não tinha roubo num farol ou em frente a escolas. Se antes havia 100 estelionatos com golpe na esquina, agora são [muitos mais]. É difícil para a polícia investigar tantos casos”, exemplificou.

Confira os números

Golpistas utilizam aplicativos de mensagem para cometer crimes — Foto: Freepik

Estelionato comum

Taxa por 100 mil habitantes

Em 2021, foram 649,9 estelionatos a cada 100 mil habitantes no país. No ano seguinte, foram 896, um aumento de 37,9%.

Números absolutos nos estados

São Paulo é o estado brasileiro com o maior número absoluto de estelionatos (638 mil), isso quer dizer que mais de um terço dos casos do país são registrados em SP.

Estados com mais casos:

  • SP: passou de 382.110 em 2021 para 638.629 em 2022 (+67%)
  • PR: passou de 114.951 em 2021 para 134.154 em 2022 (+16,7%)
  • MG: passou de 105.476 em 2021 para 130.755 em 2022 (+23,9%)
  • RJ: passou de 71.145 em 2021 para 123.841 em 2022 (+74%)

As maiores variações positivas aconteceram nos estados do RJ e de SP (no estado de SP, para a tipificação de estelionato, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) considera casos tentados e consumados).

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, publicou nesta quinta-feira (20) em rede social uma lista de ações planejadas pelo governo para lidar com o aumento de crimes violentos, como o estupro, e de casos de estelionato e racismo. Dino fala em “plano específico para a Amazônia” e controle de armas para combater alta da violência.

Estelionato por meio eletrônico

Taxa por 100 mil habitantes

Em 2021, foram 115 estelionatos a cada 100 mil habitantes no país. No ano seguinte, foram 189,9, um aumento de 65,1%.

Os estados a seguir não tinham ou não disponibilizaram dados sobre estelionato eletrônico até o fim da pesquisa: Bahia, Ceará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Números absolutos nos estados

De acordo com o levantamento do FBSP, o estado recordista em estelionatos por meio eletrônico no Brasil é Santa Catarina, com 64.230 registros em 2022. Isso representa 32% dos casos do Brasil. No entanto, seis estados não forneceram dados para o estudo, conforme alertado acima.

Estados com mais casos

  • SC: passou de 42.976 em 2021 para 64.230 em 2022 (+49,4%)
  • MG: passou de 25.574 em 2021 para 35.749 em 2022 (+39.7%)
  • DF: passou de 10.049 em 2021 para 15.580 em 2022 (+55%)
  • ES: passou de 10.545 em 2021 para 15.277 em 2022 (+44,8%)

As maiores variações positivas aconteceram nos estados de Roraima (+1.186%) — que passou de 59 casos em 2021 para 759 em 2022 — e Goiás (+1.041%), que passou de 128 para 1.461 casos em um ano.

Estratégia do crime organizado pode ter feito número subir

De acordo com Renato Sérgio de Lima, não interessa mais para o crime organizado estimular crimes que tenham violência, já que as penas são maiores e chamam a atenção da polícia.

O presidente do FBSP apontou que o setor de inteligência da polícia brasileira não está preparado para lidar com uma quantidade tão grande de casos de estelionato. 

“O golpe vai na sorte; de 100 casos, um ou dois são investigados. Quando vamos olhar para a investigação, agrega-se ao problema o perfil dos policiais civis no Brasil. São muitas polícias sem concurso há vários anos, os agentes não têm formação tecnológica de última geração. Os profissionais não são necessariamente formados em ambiente virtual, isso dificulta investigar crimes virtuais”, afirmou.

“O golpe pode estar sendo feito em outro estado ou país, por aparelho roteado. Como a polícia de São Paulo investiga um caso cujo IP do crime é do Rio Grande do Norte, por exemplo? Hoje, a política nacional do Sistema Único de Segurança Pública não tem necessariamente força de integração interestadual institucional”, disse. Ele deu o seguinte exemplo:

  1. A Polícia Civil de SP tem que pedir à Justiça de SP para quebrar o sigilo do aparelho;
  2. Caso a Justiça de SP aceite o pedido, ela envia uma carta para a Justiça do RN, que avisa a Polícia do RN a fim de que ela atue na investigação;
  3. “Nesse ponto, o criminoso já sumiu com o dinheiro, mudou de endereço”;
  4. “A força tradicional de Polícia Civil é muito analógica e isso não dá conta dos desafios do ambiente virtual”.

Golpe, telefone, golpista, estelionato, PIX, ligação, vítima, extorsão, celular, Curitiba, Paraná — Foto: Reprodução/RPC