Quem é Imane Khelif, boxeadora que está na Olimpíada após reprovação em teste de gênero

Argelina foi impedida pela Federação Internacional de competir, mas obteve autorização do COI para estar em Paris

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A argelina Imane Khelif esteve no centro de uma polêmica após a italiana Angela Carini abandonar a luta entre as duas aos 46 segundos de disputa, nesta quinta (1), nos Jogos de Paris 2024.

Carini explicou sua reação, mas muitos viram a decisão como um possível boicote. Isso porque Khelif, da categoria até 66 kg, foi autorizada a participar dos Jogos Olímpicos mesmo após ser reprovada no teste de gênero. A argelina apresentou anomalias nos níveis de testosterona.

Desclassificada no Mundial

Imane Khelif foi excluída do Mundial Feminino de Boxe em 2023, horas antes de disputar a medalha de ouro. A decisão foi tomada pela Federação Internacional da modalidade (IBA), que alegou que a atleta “não atendia aos critérios de elegibilidade”.

Após a atitude, o Comitê Olímpico da Argélia alegou que Khelif foi desclassificada por “razões médicas” e que apoiaria sua preparação visando a Olimpíada de 2024. Nesta semana, o Comitê Olímpico Internacional (COI) confirmou a participação da boxeadora nos Jogos de Paris.

Quem é Imane Khelif

Nascida em Tiaret, no noroeste da Argélia, a boxeadora de 25 anos está em sua segunda Olimpíada. Em Tóquio 2020, Imane Khelif caiu nas quartas de final para a irlandesa Kellie Harrington.

Khelif tem no currículo uma prata conquistada no Mundial de Boxe de 2022, se tornando a primeira boxeadora do seu país a chegar à final.

Posição da Associação Internacional de Boxe

Na última quarta (31) a federação que rege o boxe mundial se posicionou e explicou a decisão tomada em 2023. A nota veio após a polêmica envolvendo a autorização do Comitê Olímpico, e a participação de Khelif em Paris.

A IBA aproveitou para mostrar preocupação e dizer que a posição do COI “levanta sérias questões sobre a imparcialidade competitiva e a segurança dos atletas”. Veja a nota na íntegra:

Em 24 de março de 2023, a IBA desqualificou as atletas Lin Yu-ting e Imane Khelif do Campeonato Mundial Feminino de Boxe da IBA em Nova Déli 2023. Essa desqualificação foi resultado de sua falha em atender aos critérios de elegibilidade para participar da competição feminina, conforme definido e disposto nos Regulamentos da IBA. Essa decisão, tomada após uma revisão meticulosa, foi extremamente importante e necessária para manter o nível de justiça e a máxima integridade da competição.

Ponto a ser observado, os atletas não passaram por um exame de testosterona, mas foram submetidos a um teste separado e reconhecido, pelo qual os detalhes permanecem confidenciais. Este teste indicou conclusivamente que ambos os atletas não atendiam aos critérios de elegibilidade necessários e foram considerados como tendo vantagens competitivas sobre outras competidoras femininas.

A decisão tomada pela IBA foi posteriormente ratificada pelo Conselho de Administração da IBA.

A desqualificação foi baseada em dois testes realizados em ambos os atletas, conforme a seguir:

  • Teste realizado durante o Campeonato Mundial de Boxe Feminino em Istambul 2022
  • Teste realizado durante o Campeonato Mundial de Boxe Feminino em Nova Déli 2023

Lin Yu-ting não recorreu da decisão da IBA ao Tribunal Arbitral do Esporte (CAS), tornando assim a decisão juridicamente vinculativa. Imane Khelif inicialmente recorreu da decisão ao CAS, mas retirou o recurso durante o processo, tornando também a decisão da IBA juridicamente vinculativa.

Nossos Comitês revisaram e endossaram rigorosamente a decisão tomada durante o Campeonato Mundial. Embora a IBA permaneça comprometida em garantir a imparcialidade competitiva em todos os nossos eventos, expressamos preocupação com a aplicação inconsistente de critérios de elegibilidade por outras organizações esportivas, incluindo aquelas que supervisionam os Jogos Olímpicos. Os diferentes regulamentos do COI sobre esses assuntos, nos quais a IBA não está envolvida, levantam sérias questões sobre a imparcialidade competitiva e a segurança dos atletas.

Para esclarecer por que o COI permite que atletas com vantagens competitivas compitam em seus eventos, pedimos às partes interessadas que busquem respostas diretamente com o COI.

O que diz o Comitê Olímpico Internacional

Toda pessoa tem o direito de praticar esporte sem discriminação.

Todos os atletas participantes do torneio de boxe dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 cumprem os regulamentos de elegibilidade e inscrição da competição, bem como todos os regulamentos médicos aplicáveis ​​definidos pela Unidade de Boxe de Paris 2024 (PBU). Assim como nas competições olímpicas anteriores de boxe, o gênero e a idade dos atletas são baseados em seus passaportes.

Essas regras também se aplicaram durante o período de qualificação, incluindo os torneios de boxe dos Jogos Europeus de 2023, Jogos Asiáticos, Jogos Pan-Americanos e Jogos do Pacífico, o torneio qualificatório africano ad hoc de 2023 em Dacar (SEN) e dois torneios qualificatórios mundiais realizados em Busto Arsizio (ITA) e Bangkok (THA) em 2024, que envolveram um total de 1.471 boxeadores diferentes de 172 Comitês Olímpicos Nacionais (CONs), a Equipe de Refugiados de Boxe e Atletas Neutros Individuais, e contaram com mais de 2.000 lutas de qualificação.

A PBU usou as regras de boxe de Tóquio 2020 como base para desenvolver seus regulamentos para Paris 2024. Isso foi para minimizar o impacto nas preparações dos atletas e garantir a consistência entre os Jogos Olímpicos. Essas regras de Tóquio 2020 foram baseadas nas regras pós-Rio 2016, que estavam em vigor antes da suspensão da Federação Internacional de Boxe pelo COI em 2019 e a subsequente retirada de seu reconhecimento em 2023.

Vimos em reportagens informações enganosas sobre duas atletas competindo nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. As duas atletas competem em competições internacionais de boxe há muitos anos na categoria feminina, incluindo os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, o Campeonato Mundial da Associação Internacional de Boxe (IBA) e torneios sancionados pela IBA.

Essas duas atletas foram vítimas de uma decisão repentina e arbitrária da IBA. Perto do fim do Campeonato Mundial da IBA em 2023, elas foram repentinamente desqualificadas sem nenhum devido processo.

De acordo com as atas da IBA disponíveis em seu site, essa decisão foi inicialmente tomada somente pelo Secretário Geral e CEO da IBA. O Conselho da IBA só a ratificou depois e só posteriormente solicitou que um procedimento a ser seguido em casos semelhantes no futuro fosse estabelecido e refletido nos Regulamentos da IBA. As atas também dizem que a IBA deve “estabelecer um procedimento claro sobre testes de gênero”.

A atual agressão contra essas duas atletas se baseia inteiramente nessa decisão arbitrária, que foi tomada sem nenhum procedimento adequado – especialmente considerando que essas atletas competem em competições de alto nível há muitos anos.

Tal abordagem é contrária à boa governança.

As regras de elegibilidade não devem ser alteradas durante a competição em andamento, e qualquer alteração nas regras deve seguir processos apropriados e deve ser baseada em evidências científicas.

O COI está comprometido em proteger os direitos humanos de todos os atletas que participam dos Jogos Olímpicos, conforme a Carta Olímpica , o Código de Ética do COI e o Quadro Estratégico do COI sobre Direitos Humanos . O COI está triste com o abuso que as duas atletas estão sofrendo atualmente.