Com um orçamento estimado em cerca de R$ 56 milhões (menos de US$ 10 milhões), é difícil argumentar contra o sucesso de “Longlegs”, terror americano que já arrecadou mais de dez vez esse valor em bilheterias ao redor do mundo.
No Brasil, o filme estreou no terceiro lugar com quase R$ 3 milhões desde o lançamento na quarta-feira (28) — atrás apenas dos fenômenos “É assim que acaba” e “Deadpool e Wolverine”.
Por trás da história de um assassino serial e das grandes atuações de Maika Monroe (“Corrente do mal”) e de Nicolas Cage (ganhador do Oscar por “Despedida em Las Vegas”), tamanha vitória pode ser explicada pela tensão perturbadora criada pelo diretor e roteirista Osgood Perkins (“O último capítulo”).
Ao contrário de outros exemplos menos memoráveis do gênero, “Longlegs” não aposta em sustos fáceis. Você sabe, aqueles momentos em que cineastas menos talentosos quebram o silêncio com uma aparição repentina do vilão (ou alguma outra bobagem) e um barulhão (que pode ser só da trilha sonora, para piorar).
Ao invés disso, o filme conquista — e aterroriza — o público com uma atmosfera densa, quase profana, que deixa o público com dor nos ombros de tanta angústia.
Com os assassinatos cometidos em sua grande maioria fora de cena, assim como grande parte do sangue derramado, Perkins deixa que a ausência de diálogos explicativos e de ação mais intensa seja preenchida pela imaginação do próprio espectador.
Tais fatores, somados às estranhezas quase desumanas da protagonista e do assassino, esticam a corda da tensão até limites explorados cada vez menos no terror atual.
Há quem não goste tanto do final, o momento que mais divide espectadores entre devoção e frustração. Mas o clima de desconforto e incerteza não é quebrado até o descer dos créditos.
O enredo de ‘Longlegs’
No filme, Monroe interpreta uma agente do FBI com leves dons sensitivos e pouquíssima destreza social, que se envolve na investigação para identificar um antigo assassino serial conhecido apenas como Longlegs (“pernas longas”, em português. Sem ligação com o coelho animado).
Seu envolvimento reaquece a perseguição ao criminoso, que há décadas frustra a agência por suas táticas incomuns e cartas codificadas deixadas nos locais.
Depois de ser revelada em outro terror que se destacou pela tensão e por boas ideias, a atriz recebe uma segunda chance ao completar o ciclo e entregar uma atuação mais inspirada e muito mais complexa.
O roteiro – e a natureza da personagem – ajudam, claro, mas a protagonista funciona graças à combinação de sua interpretação precisa e estranha de seus traços estranhamente indefinidos.
Do outro lado, Cage engata mais um grande trabalho dentro de uma série de escolhas questionáveis ao abraçar sua estranheza e elevá-la à enésima potência.
O ator aparece pouco e debaixo de maquiagem e próteses que o desfiguram – mas cria um personagem tão perturbador que sua própria ausência em cada cena provoca ainda mais desconforto.
De fato, em alguns momentos a sensação é de que sua presença representa uma ameaça menor. Vê-lo significa que ele ou alguma outra entidade não se esconde à espreita nas sombras.
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