A Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCRJ) afirmou que os casos infecção de pacientes com HIV após receberam órgãos transplantados, no Rio de Janeiro, foram causados por falha operacional, com objetivo de obter lucro. A declaração foi dada em coletiva de imprensa, na manhã desta segunda-feira (14).

A entrevista começou com o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, afirmando que as primeiras investigações apontam para uma falha operacional no controle de testes de diagnósticos de HIV, com objetivo de obter lucro.

De acordo com a polícia, houve uma decisão operacional na empresa contratada para fazer os testes, para que as checagens nos reagentes fossem alteradas, visando o aumento do lucro, em detrimento a segurança do processo. Isso teria prejudicado a segurança dos testes.

As investigações começaram na sexta-feira (11), a pedido da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ), depois que os casos vieram a tona.

Quebra do controle de qualidade

O Departamento-Geral de Polícia Especializada averiguou que houve uma quebra no protocolo de checagem dos reagente químicos, que indicariam a presença do vírus.

Segundo as informações, os reagentes precisam de checagem diária, porém, para maximização dos lucros, o laboratório teria determinado que os testes fossem realizados semanalmente. André Luiz de Souza Neves, delegado de polícia, afirma que a medida impactou na integridade dos testes.

A polícia segue as investigações, que estão sob sigilo, e afirma que novas diligências e depoimentos serão colhidos para esclarecer os fatos.

Prisões, apreensões e investigações

A Delegacia do Consumidor deflagrou operação na manhã desta segunda-feira com 11 mandados de apreensão e quatro de prisão.

A polícia informou que novos elementos surgiram durante as diligências desta manhã, e a pessoa responsável pela quebra no protocolo de análise – responsável direto pelas infecções – está entre os investigados.

De acordo com o delegado Wellington Pereira Vieira (Delegado da Decon), todos os mandados de prisão foram cumpridos. Duas pessoas foram presas e duas já estão na lista de foragidas.

O sócio principal PCS Lab Saleme, e Ivanilson Fernandes, técnico de laboratório contratado para fazer a análise do material, foram presos nesta manhã no Rio de Janeiro.

A polícia afirma que Matheus (filho do sócio) não foi alvo nessa fase, porque a investigação neste momento mira o processo de coleta e análise dos exames. Hoje, foram alvos todas as pessoas relacionadas a cadeia produtiva e operacional dos laudos. De acordo com os policiais, nada impede que outras pessoas sejam investigadas e objetos de operação.

As investigações continuam com a reanálise clínica de outros 300 testes, que envolvem outros pacientes que foram submetidos a procedimentos do mesmo laboratório, e precisarão ser retestadas.

O PCS Lab Saleme informou à CNN, em nota, que repudia a suposta existência de um esquema criminoso para forjar laudos dentro do laboratório. Leia abaixo:

“A defesa de Walter e Mateus Vieira, sócios do PCS Lab Saleme, repudia com veemência a suposta existência de um esquema criminoso para forjar laudos dentro do laboratório, uma empresa que atua no mercado há mais de 50 anos. Ambos prestarão todos os esclarecimentos à Justiça”.

Sobre o caso

Seis pacientes contraíram o vírus HIV após passarem por transplantes de órgãos no Rio de Janeiro. Segundo as investigações, dois doadores teriam feito exame de sangue no laboratório PCS Lab, localizado Baixada Fluminense, e os resultados deram falso negativo. Com isso, ao menos seis receptores foram infectados.

Segundo apurou a CNN, os infectados já estão cientes e os órgãos de outros 288 doadores estão passando por nova testagem no estado.

Em nota, a empresa afirma que dará “suporte médico e psicológico” aos pacientes infectados e seus familiares e que está à disposição das autoridades para a investigação sobre o caso.

O laboratório afirmou que o caso é “um episódio sem precedentes na história da empresa, que atua no mercado desde 1969”.

A empresa foi contratada pela Secretaria de Estado de Saúde para testar os doadores de órgãos. O contrato, firmado pela Fundação Saúde do RJ em dezembro de 2023, tinha duração de 12 meses e um valor total de cerca de R$ 11 milhões.

A pasta informou que uma comissão multidisciplinar foi criada para acolher os pacientes afetados e assegurou que o laboratório contratado para realizar o exame nos doadores teve o contrato suspenso. Novos exames serão realizados pelo Hemorio.

“A Secretaria está realizando um rastreio com a reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos doadores, a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório”, explica o comunicado.

O Ministério da Saúde solicitou a interdição cautelar do laboratório PCS Lab Saleme após denúncias sobre a transmissão do vírus HIV a pacientes transplantados no Rio de Janeiro.

Além da interdição, o ministério determinou que todos os testes de doadores de órgãos sejam realizados exclusivamente pelo Hemorio utilizando o teste NAT e ordenou a retestagem do material dos doadores do laboratório sob investigação.