Morcegos podem prever o futuro quando caçam, segundo cientistas

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Muitas vezes, os morcegos são descritos como criaturas perigosas que bebem sangue, mas os pesquisadores que os estudam preferem pensar neles como animais extremamente inteligentes e bondosas.

Um time de cientistas da Universidade de Johns Hopkins encontraram um novo argumento para melhorar a imagem dos morcegos: os mamíferos que voam podem prever o futuro.

Morcegos que se alimentam de insetos usam ecos para criar um modelo tridimensional do mundo ao seu redor enquanto voam, perseguindo sua presa, e usam essas previsões para traçar o provável caminho da presa, de acordo com um artigo publicado nesta semana na revista acadêmica Proceedings of National Academy of Sciences.

Apesar morcegos não serem exatamente clarividentes, aqueles que conseguem prever o trajeto das presas são caçadores extremamente precisos que se baseiam em mais do que pistas visuais.

Cynthia Moss, principal pesquisadora no laboratório que estuda morcegos da Jonhs Hopkins, o Batlab, professora de ciências psicológicas e do cérebro e autora sênior da pesquisa, afirmou que os achados podem agregar à forma como cientistas entendem a percepção e o processamento da informação em seres humanos.

“Nós estudamos morcegos, mas estamos realmente interessados em questões maiores e mais gerais”, disse ela à CNN. “Uma das perguntas é como os animais, incluindo humanos, podem usar as informações adquiridas através dos sentidos e prever algo que pode acontecer no futuro próximo.”

Como os morcegos fazem previsões

A previsão rápida é algo que pessoas que praticam esportes são bastante adeptas, disse Moss, mas eles têm uma vantagem que os morcegos não possuem – eles podem, por exemplo, seguir uma bola enquanto ela percorre o campo ou voa na quadra sem interrupções. Os morcegos, que geralmente perseguem suas presas na escuridão, são impedidos por árvores que bloqueiam seus ecos.

Morcegos caçam usando a ecolocalização, um processo no qual eles emitem sons ultrassônicos e usam as informações vindas dos ecos que retornam a eles. O tempo que eco demora para voltar até eles os ajuda a criar um “registro tridimensional do mundo ao redor”, segundo a também autora do estudo, Clarice Diebold.

Entretanto, existem falhas nesses modelos de mundo, pois alguns ecos são barrados por árvores e objetos no trajeto do morcego. Então Moss, Diebold e mais uma das autoras do estudo, Angeles Salles, testaram a capacidade desses animais de juntar esses registros da paisagem e criar um modelo para prever onde o objeto que estão perseguindo irá – como um jogador de beisebol que tenta pegar uma bola que voa em sua direção, mas usando a audição.

O time do Batlab treinou morcegos para sentar em uma plataforma no laboratório enquanto controlava o trajeto dos insetos a serem perseguidos pelos animais. O ambiente permitiu que os pesquisadores controlassem a velocidade na qual os insetos se moviam, e então puderam observar os morcegos com uma câmera de alta velocidade.

“O que descobrimos foi que os morcegos não usam somente as informações que retornam com os ecos, mas estavam também estimando onde seu alvo estaria no momento futuro”, disse Diebold.

Os morcegos conseguem fazer isso a partir de uma estimativa da velocidade na qual o inseto está se movendo, assim como as posições onde o alvo deveria aterrissar, mesmo quando a ecolocalização era bloqueada por algum tempo.

“Descobrimos que os morcegos são capazes de prever quando a presa vai reaparecer quando a perdem de vista temporariamente”, disse Salles.

Como pesquisas sobre morcegos podem ajudar os humanos

Moss reconheceu que muitas pessoas podem achar a ênfase do laboratório em morcegos estranha ou específica demais. Mas morcegos são uma base de estudo forte em para testar hipóteses sobre a condição humana, afirmou.

“Morcegos são criaturas especiais”, disse Moss. “Eles podem ter pistas de como resolver muitos problemas que os humanos enfrentam.”

Algumas das técnicas que morcegos usam para caçar na escuridão também são aplicadas por pessoas com deficiências visuais, que podem usar sua própria forma de ecolocalização utilizando uma bengala específica ou fazendo barulhos com a boca para criar uma imagem do mundo ao seu redor. Como morcegos, pessoas que são cegas podem localizar objetos enquanto se movimentam ao ouvir mudanças nos ecos.

Ao entender os processos pelos quais os morcegos fazem essas previsões através da audição para alcançar sua presa, disse Moss, pesquisadores podem entender melhor como desenvolver dispositivos que ajudem pessoas cegas a fazer o mesmo.

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