Ao g1, a Seduc-SP disse que, em reunião com os pais dos jovens, ficou decidido que eles aguardariam a aprovação de novas instituições. Segundo o órgão, “os próprios responsáveis rejeitaram a oportunidade de efetuar matrícula em uma escola pública” comum (em que ficariam junto com alunos sem deficiência, com apoio especial no contraturno).
Renata Tibyriçá, defensora pública e professora de direito das pessoas com deficiência, explica que a situação é uma exceção e que transferir os alunos para um colégio comum não seria aceitável.
“São jovens de 13 a 17 anos que nunca tiveram acesso ao conteúdo da escola comum. O Estado nunca garantiu para eles uma inclusão adequada”, afirma.
Veja abaixo outros dois relatos de mães de ex-alunos da Gaia:
‘Se ele ouve falar em escola, entra em desespero’
Sandra*, mãe de Felipe*, de 14 anos, afirma que, em 24 de agosto de 2022, seu filho saiu da escola desestabilizado, chorando muito.
“Perguntei o que aconteceu, e a escola disse que não deu tempo de ver o que foi. Quando entramos no transporte, o Felipe mostrou os braços e disse que o auxiliar de sala tinha o machucado. Fez os gestos de pegarem no braço dele e falou: ‘muita raiva, muita raiva’”, conta.
No dia seguinte, Sandra marcou uma reunião com a direção do colégio. Segundo ela, ouviu como resposta: “Seu filho bate em professor, aí, quando a gente revida, você acha ruim? Aproveite e tire seu filho daqui.”
No dia 26, segundo a mãe do aluno, a funcionária da escola pediu desculpas, por telefone, e garantiu que o auxiliar seria demitido.
Ao g1, Jorge dos Santos, sócio-administrador da Gaia, diz que ouviu tanto as famílias dos alunos quanto os funcionários envolvidos nos relatos. De acordo com ele, esses trabalhadores foram afastados e ficaram sem contato com os alunos, até que as investigações fossem concluídas.
Até a última atualização desta reportagem, Felipe ainda estava sem aula, aguardando o credenciamento de uma nova instituição especial.
“Se ele ouve falar em escola, entra em desespero. Não consegue fazer mais nada sem minha presença. É como se estivesse sempre com medo, sem confiança. Antes, ele fazia tudo sozinho”, conta Sandra.
‘Fui a cinco psiquiatras para entender o que estava acontecendo’
Carol*, mãe de Luan*, de 14 anos, conta que o garoto sempre foi muito tranquilo. Até que, em setembro de 2022, mudou de comportamento: começou a puxar o cabelo das pessoas e a segurá-las com força.
“Fui a cinco psiquiatras para entender o que estava acontecendo”, diz Carol. “Eu ligava para a escola e perguntava se ele realmente tinha condições de ficar lá.”
No fim de 2022, Luan voltou da Gaia com arranhões no pescoço e no braço, conta a mãe do menino. Após conversar com outras mães de alunos e ouvir relatos semelhantes (de marcas no corpo e mudanças de comportamento), Carol procurou a diretoria de ensino, fez um exame de corpo de delito e registrou um boletim de ocorrência na delegacia.
Até a última atualização da reportagem, a família ainda aguardava o credenciamento da nova escola de Luan.
“Queria um lugar bom e especializado, com pessoas decentes e currículo adequado. Eu não aguento mais. Preciso de justiça.”