O ministro da Justiça, Sergio Moro, não reconheceu a autenticidade dos diálogos com procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato. Moro participa de audiência na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara para esclarecer as mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil. As mensagens, segundo o Intercept, indicam que Moro orientou o trabalho do Ministério Público Federal.
Na declaração inicial, Moro defendeu o trabalho da Lava Jato. Afirmou nunca ter agido de forma ilegal. Segundo ele, o ataque a celulares de autoridades é criminoso e busca prejudicar o resultado das investigações.
Ainda de acordo com o ministro, “alguém com muitos recursos” está por trás dos ataques de hackers aos celulares de procuradores que deram origem aos áudios do Intercept Brasil. Ele disse acompanhar as investigações da Polícia Federal como “vítima”.
“Alguém com recursos porque não é a tentativa de ataque de um celular, mas a tentativa de ataque de vários, em alguns casos, talvez, com sucesso, o que não parece corresponder a atividade de um adolescente com espinha na frente de um computador”, afirmou Moro.
Um dos autores do requerimento de convite, o deputado Darcisio Perondi (MDB-RS) saiu em defesa do ministro e exaltou o Parlamento. “Vinda do ministro reflete o saudável exercício da democracia, pois permite a explicação dos vazamentos criminosos”, disse o vice-líder do governo.
Nesta audiência, o clima é de animosidade, bem diferente da reunião realizada no Senado em 19 de junho. Na ocasião, Moro negou conluio com procuradores, mas foi tratado com mais cordialidade pelos senadores, inclusive os oposicionistas.
A deputada Érika Kokay (PT-DF) definiu a Lava Jato como uma farsa. Reclamou da mensagem em que o então juiz federal aconselhou o Ministério Público a não investigar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Disse que as delações premiadas foram escolhidas seletivamente, o que desmoraliza o combate à corrupção. “O país está vivendo uma farsa no Palácio do Planalto”, encerrou.
Final de campeonato
Antes do início da audiência, o clima era de final de campeonato. No lado de fora, manifestantes se dividiam entre palavras de apoio ao ministro e atos em desagravo.
Dentro da Comissão de Constituição e Justiça, petistas e governistas trocavam provocações. Presidente do colegiado, o deputado Fernando Francischini (PSL-PR) anunciava o sumiço dos óculos de Perpétua Almeida (PCdoB): “Pessoal, a deputada Perpétua perdeu seus óculos”.
Os pedidas aproveitaram para ironizar o ministro: “Manda um telegram para o Moro, Perpétua”. O líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), reagiu na hora: “Manda um telegram para o Lula. Se querem provocar, então vamos provocar”. O ex-presidente Lula está preso em Curitiba, após condenação no âmbito da Operação Lava Jato.
Moro comparece à Câmara para falar sobre vazamento de diálogos com procuradores da Operação Lava Jato divulgados pelo site Intercept. Mensagens reveladas pelo veículo indicam troca de colaboração entre Moro, então juiz federal, e Deltan Dallagnol, procurador e coordenador da força-tarefa da Lava Jato. Segundo a lei, o juiz não pode auxiliar ou aconselhar nenhuma das partes do processo.