O brasileiro jantou nesta terça-feira com o rei Abdullah II, da Jordânia, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o assessor especial e genro de Donald Trump, Jared Kushner, e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, na última noite de seu giro pela Ásia e pelo Oriente médio, em Riade, capital saudita.
“Eu propus ao príncipe herdeiro investimento na baía de Angra para nós a transformarmos numa Cancún. Depois de uma explanação, ele falou que está pronto para investir na baía de Angra. Mas isso passa por um projeto para revogar um decreto ambiental”, disse o presidente, que referia-se ao decreto que criou a Estação Ecológica de Tamoios, em 1990, assinado pelo então presidente José Sarney. A área corresponde a uma unidade de conservação federal de proteção integral e ocupa 5,7% da Baía da Ilha Grande.
Na região, onde estão segundo o governo pelo menos 10 espécies marinhas em extinção, não são permitidas atividades como mergulho, navegação, construções e pesca. A revogação depende do Congresso Nacional.
Os ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disseram mais cedo nesta terça-feira que o fundo soberano saudita, o Fundo de Investimento Público (PIF), decidiu “investir por conta de US$ 10 bilhões no Brasil”. Nenhum investimento específico foi anunciado, nem foram definidas datas ou prazos para o início dos aportes.
Depois, o presidente brasileiro disse que “foi confirmado o investimento de US$10 bilhões no Brasil”.
Pela segunda vez no dia, em meio a polêmica sobre um vídeo divulgado por ele, o presidente se absteve de falar com os jornalistas nesta terça-feira após ser questionado sobre as criticas feitas pelo ministro Celso de Mello.
A declaração do decano do STF se referia a um vídeo publicado no perfil pessoal do presidente no Twitter que mostrava um leão associado ao nome do presidente e um grupo de hienas associadas ao STF, a jornais e televisões, órgãos como a ONU, a OAB e a CUT, e partidos como o PT, PSDB e o PSL, que vive um racha com o presidente, eleito pela sigla. O vídeo foi apagado em seguida.
“Torna-se evidente que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções, pois o vídeo que equipara, ofensivamente, o Supremo Tribunal Federal a uma ‘hiena’ culmina, de modo absurdo e grosseiro, por falsamente identificar a Suprema Corte como um de seus opositores”, disse Celso de Mello, em nota.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o presidente pediu desculpas pelo vídeo.
Empolgação e amizade
Bolsonaro disse ainda que os sauditas “estão muito empolgados com o nosso país”.
Na manhã desta terça, o presidente disse ter afinidade com o principe herdeiro saudita —acusado pela CIA de participar do assassinato do jornalista do Washington Post Jamal Khashoggi na embaixada saudita na Turquia. O príncipe nega participação no crime.
Nesta terça-feira, Bolsonaro voltou a reforçar a intimidade com o nobre saudita: “Inclusive, criou-se uma amizade entre nós que não é de agora e nos faz ficar mais abertos a conversar (sobre) esse tipo de negócio”, disse.
‘Países dinâmicos’
Segundo Ernesto Araújo, o CEO do banco Goldman Sachs, em audiência com Bolsonaro nesta terça-feira, disse que “Brasil e Arábia Saudita são os certamente os dois países mais dinâmicos para receber investimentos”.
Brasil e Arábia Saudita também vão anunciar, segundo os ministros, um acordo recíproco para simplificar o acesso a vistos de turismo e negócios.
Atualmente válidos por até um ano, eles terão validade máxima de cinco anos, se o acordo for de fato concretizado. Também serão possíveis múltiplas entradas, algo hoje vedado dos dois lados. O custo, hoje superior a mil dólares, deve cair para 80 dólares, segundo o Itamaraty.
Em sua visita, Bolsonaro esteve pelo menos duas vezes com o príncipe Mohammed bin Salman, herdeiro do trono do Reino da Arábia Saudita.