Polícia investiga ameaças de morte contra pesquisador do AM que estuda uso da cloroquina em pacientes com Covid-19

Publicação que, segundo médico, gerou ameaças, diz que pesquisadores usaram pacientes como cobaias humanas, com morte de 11 participantes de estudo.

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A Secretaria de Segurança-Pública do Amazonas (SSP-AM) e a Polícia Civil informaram, nesta quinta-feira (16), que investigam ameaças de morte feitas ao médico da Fundação de Medicina Tropical e pesquisador da Fiocruz-AM, Marcus Lacerda. Uma publicação que, segundo o médico, gerou as ameaças, relata que os pesquisadores usaram 81 pacientes contaminados pelo novo coronavírus, como cobaias humanas, e 11 participantes do estudo morreram. No Estado, 124 pessoas já morreram vítimas do novo coronavírus e 1.719 casos foram confirmados, nesta quinta-feira.

O médico Marcus Lacerda lidera a equipe de pesquisadores do Amazonas no estudo sobre o uso da cloroquina, pioneiro no País, que apontou que alta dosagem é muito tóxica para pacientes com o novo coronavírus em estado grave.

O médico Marcus Lacerda, responsável pelo estudo, informou em nota pública, nesta quinta-feira (16), que os resultados da pesquisa geraram repercussões negativas. Na nota, ele informa que um ativista publicou em uma rede social que “o estudo brasileiro era irresponsável e que tínhamos usado os pacientes como cobaias humanas”.

Durante o estudo, os pesquisadores dividiram um total de 81 pacientes com o novo coronavírus em estado grave em dois grupos. Um com testagens de dosagens altas e, o outro, com dosagens baixas de cloroquina. 11 mortes de pacientes foram registradas durante o estudo, sendo 7 em pacientes submetidos a maior dosagem.

Após resultados da pesquisa que mostraram que uma alta dosagem é muito tóxica para pacientes com a Covid-19 em estado grave, o Governo do Amazonas suspendeu o uso de alta dose de cloroquina em contaminados pela doença. Lacerda informou, também, em coletiva de imprensa, na quarta-feira (15), que a pesquisa serviu como embasamento para o Ministério da Saúde durante o tratamento no país.

Segundo Lacerda, a publicação feita pelo ativista teve grande repercussão e foi veiculada em sites, mídias sociais e veículos de comunicação. O médico afirmou, na nota, que o posicionamento é incorreto, pois todos os requisitos éticos e legais foram seguidos durante a pesquisa.

“A interpretação equivocada do ativista e seus seguidores foi de que todas as mortes ocorridas no estudo se deveram ao uso das altas doses, sendo que nem todos os pacientes usaram a alta dose e todos eles tinham Covid-19 muito grave, vindo a falecer por conta da doença, o que ocorreu dentro da média mundial. Todos os registros estão disponíveis no centro, de acordo com as boas práticas clínicas, seguidas por toda a equipe de profissionais envolvidos no estudo”, disse Lacerda.

O desdobramento da publicação, segundo Lacerda, gerou ataques a ele, à família e à equipe de pesquisadores envolvidos no estudo. “A Polícia Militar do Estado do Amazonas está vigilante e garantindo a segurança imediata de todos”, disse o médico na nota.

Também por meio de nota, a SSP-AM e a Polícia Civil informaram que estão investigando as ameaças de morte ao médico. Segundo o órgão, ele relatou que passou a sofrer ataques de cunho político e ameaças de morte através de suas redes sociais.

Governo do Amazonas suspendeu alta dosagem da cloroquina em pacientes graves de Covid-19. — Foto: Divulgação/Secom

A pesquisa

Inicialmente, o estudo ‘CloroCovid-19’ tinha como objetivo avaliar a segurança e eficácia de duas dosagens diferentes de cloroquina em pacientes em estado grave da doença. Participaram do estudo pessoas de ambos os sexos, com idade acima de 18 anos, que não apresentaram contraindicações à cloroquina.

Dos participantes incluídos na pesquisa, um grupo recebeu dose alta de cloroquina, sendo 600mg, duas vezes ao dia por dez dias. O outro grupo recebeu uma dose mais baixa, de 450 mg, duas vezes ao dia no primeiro dia e uma vez ao dia por mais quatro dias.

“Nós diariamente monitorávamos pacientes que estavam usando as duas doses. Acontece que, essa dose maior que está sendo usada na China e ainda é usada em outros países, não se mostrou uma dose muito segura”, informou.

Ainda conforme Lacerda, a alta dosagem de cloroquina mostrou potencial de ser tóxica para o coração, especialmente quando é associada com azitromicina – um antibiótico que também pode dar arritimia cardíaca.

Os pacientes que participaram do estudo, bem como os inseridos após essa avaliação, são acompanhados pela equipe de pesquisa por 28 dias após o início da medicação. Pretende-se, ainda, reavaliá-los após 120 dias, com o objetivo de verificar potenciais sequelas.

Coronavírus no Amazonas

O número total de casos confirmados do novo coronavírus no Estado chegou a 1.719, segundo a última atualização feita pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM), nesta quinta-feira (16). O número de mortes causadas pelo novo coronavírus no Amazonas chegou a 124.

De acordo com a FVS-AM, 459 dos casos são em Manaus e 260 no interior, em 21 municípios diferentes. O número de casos confirmados em Manacapuru continua subindo e já chega a 149.

O boletim aponta, ainda, que 688 pacientes estão internados com suspeita e confirmação do novo coronavírus. São 154 pessoas testadas positivo para a Covid-19 e outras 534 sob investigação.

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