Miranda sobre Onyx: “Não me sinto coagido, vou botar ele na cadeia”

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O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) reagiu, na noite desta quarta-feira (23/6), às declarações dadas pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral, Onyx Lorenzoni, sobre as denúncias levadas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre um possível esquema para favorecer a compra de vacinas Covaxin pelo Ministério da Saúde. Em pronunciamento à imprensa, o representante do Palácio do Planalto afirmou que vai processar o parlamentar por denunciação caluniosa, e o irmão do parlamentar, servidor do Ministério da Saúde, por prevaricação.

Em conversa com o Metrópoles, Miranda classificou as falas de Lorenzoni como “gravíssimas” e com a única intenção de tentar calar tanto ele quanto o irmão, o servidor concursado Luis Ricardo Miranda, após os documentos e as investidas para que Bolsonaro tomasse alguma atitude sobre o contrato da Covaxin se tornarem públicos.

“Fui ameaçado com a intenção clara de coagir as testemunhas, que somos eu e meu irmão. Ali ficou claro que a intenção dele [Onyx] é de nos coagir para que fiquemos calados e não tenhamos coragem de continuar”, afirmou.

O deputado federal também desmentiu o correligionário – ambos são filiados ao DEM – sobre a possibilidade de falsificação do documento com a intenção de compra dos imunizantes.

“Não tem documento falso coisa nenhuma, é documento interno do Ministério da Saúde. Além da ameaça feita pelo ministro, quem comete crime é ele, porque os documentos são do próprio ministério. Na mesma fala, ele [Onyx] diz que os documentos foram corrigidos. Afinal, são falsos ou foram corrigidos, como ele disse que ocorreu no dia 24 de março, dois dias depois da minha denúncia? Então manda-se corrigir um documento em vez de mandar apurar os possíveis crimes? A fala dele foi muito grave.”

Relação azedada

Questionado sobre a relação partidária com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Luis Miranda desabafou sobre o posicionamento do Planalto e considerou as falas do ministro Onyx como uma “trairagem”. Ele também afirmou que o papel que exerceu foi de levar o caso ao presidente da República para que despachasse a denúncia para a Polícia Federal.

“Levamos o caso para que o presidente fizesse a denúncia, oficialmente. Nós somos apenas testemunhas. Não somos acusadores, o que demonstra total desespero do ministro Onyx. Ele tem algo a esconder? As falas dele são mais graves do que se podem aparentar. Ele se sentiu ofendido, porque por diversas vezes no início do mandato eu fiz outras denúncias sobre outros casos do Ministério da Saúde e ele não levou para frente. Eu tenho isso protocolado e entregue na agenda oficial dele. Eram denúncias sérias”, disse.
Miranda também afirmou que vai acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 sobre as declarações de Onyx Lorenzoni.
“Estou preparando o pedido para que o STF, bem como a CPI, avaliem se as palavras de Onyx não foram palavras claras de ameaça para coagir as testemunhas e com o objetivo de ficarmos calados na CPI. Se for o caso, vamos pedir a prisão dele. Não vou me sentir coagido, não. Vou botar ele na cadeia. Se ele tentar me ameaçar de novo, vou procurar todas as autoridades para que isso aconteça”, reforçou.

Mensagens a Bolsonaro

Mais cedo, a coluna também revelou os prints de conversas com WhatsApp entre o deputado federal e um dos ajudantes de ordem do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no dia em que o parlamentar e o irmão foram ao Palácio da Alvorada para falar sobre indícios de irregularidades na compra de vacinas, antes de a confirmação chegar ao Ministério Público Federal (MPF).

A repercussão das denúncias levou o vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a requisitar segurança para o deputado federal, ao irmão dele e também para familiares.

O parlamentar disponibilizou ao Metrópoles as mensagens encaminhadas a um secretário do presidente da República, com os alertas de uma possível corrupção no processo de compras do imunizante indiano. A pedido do congressista, o nome do militar foi preservado.

“Avise o PR [presidente da República] que está rolando um esquema de corrupção pesado na aquisição das vacinas dentro do Ministério da Saúde. Tenho provas e as testemunhas. Sacanagem da porra… A pressão toda sobre o presidente e esses ‘FDPs’ roubando”, escreveu o parlamentar às 12h55 do dia 20 de março. Como resposta, o auxiliar de Bolsonaro respondeu com uma Bandeira Nacional.

Uma hora depois, Miranda insistiu: “Não esquece de avisar o presidente. Depois, não quero ninguém dizendo que eu implodi a República. Já tem PF e o caralho no caso. Ele precisa saber e se antecipar”. Da mesma forma, a resposta foi com o símbolo nacional.

O congressista, então, afirmou ao ajudante de ordens que estaria “a caminho”, dando a entender que faria uma visita a Bolsonaro no Planalto. Dois dias depois, no dia 22 de março, Miranda encaminhou documentos para o mesmo número do ajudante de ordens presidencial. “Meu irmão quer saber do presidente da República como agir”, insistiu.

Reunião com Bolsonaro

A coluna Janela Indiscreta confirmou que ambos estiveram no Palácio da Alvorada no dia 20 de março deste ano, quando o alerta teria sido feito ao chefe do Executivo sobre as investidas de autoridades do Ministério da Saúde para que a importação do imunizante indiano fosse acelerada. O depoimento do servidor do ministério foi dado ao MPF no dia 31 de março.

Tanto o deputado federal quanto o irmão devem ser ouvidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 na próxima sexta-feira (25/6). O requerimento de autoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) é direcionado aos dois e foi aprovado nesta quarta-feira (23/6).

O convite surgiu após o MP propor abertura de investigação criminal para apurar se houve irregularidades na compra superfaturada pela União das doses da vacina indiana, produzida pela Bharat Biotech.

De acordo com Luis Miranda, documentos e prints de mensagens de WhatsApp levados ao chefe do Executivo comprovariam a pressão, por parte de integrantes do Ministério da Saúde, para a compra da Covaxin.

A Procuradoria da República no Distrito Federal apontou descumprimento no contrato assinado entre a Precisa Medicamentos, representante da farmacêutica no Brasil, e o ministério por possíveis quebra de cláusulas sobre a entrega do imunizante.

Entenda

Um documento do Ministério das Relações Exteriores mostra que o governo federal negociou, no início de fevereiro deste ano, a compra da vacina indiana Covaxin por um valor 1.000% mais alto do que o preço anunciado pela fabricante seis meses antes. As tratativas ocorreram, portanto, mais de um mês antes do encontro dos irmãos Miranda com Bolsonaro e da denúncia feita ao MPF.

Em agosto do ano passado, o imunizante contra a Covid-19 foi orçado em 100 rúpias, valor que equivale a US$ 1,34 a dose, segundo a Bharat Biotech, laboratório que fabrica o fármaco. A informação consta em um telegrama sigiloso da embaixada brasileira na Índia.

O valor acordado com o Ministério da Saúde, no entanto, é mais alto — de US$ 15 por unidade, o que equivale a R$ 80,70, na cotação da época. A informação foi revelada pelo jornal Estado de S.Paulo.

Também chama atenção o fato de que, diferentemente das outras vacinas adquiridas pelo Ministério da Saúde, o contrato foi articulado com a Precisa Medicamentos, representante da Bharat Biotech no Brasil, e não com o próprio laboratório.

Outro telegrama do Itamaraty mostra que o embaixador brasileiro na Índia relatou críticas ao governo indiano por causa do valor pago pela vacina. Eles compraram o imunizante por US$ 4,10, quantia mais barata que a oferecida ao Brasil.

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