“Taxas das blusinhas”: compras de US$ 50 podem chegar a R$ 373,46, calcula especialista

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A “taxa das blusinhas” está cada vez mais perto de se tornar uma realidade para clientes de plataformas internacionais, como Shein e Aliexpress.

Na noite de quarta-feira (5), o Senado aprovou a proposta que estabelece o Imposto de Importação de 20% para compras internacionais de até US$ 50. Como parte do texto foi alterado, ele retorna à Câmara dos Deputados, onde já havia sido aprovado.

Na cotação do fechamento dea sexta-feira (7), com o dólar negociado em R$ 5,32, o valor dessas “comprinhas” é de R$ 266.

Caso seja aprovada a medida, o quão mais caras vão ficar as comprinhas feitas em sites internacionais? A resposta pode ser um pouco mais complexa do que 20%.

Soma de impostos

No ano passado, o governo havia zerado a alíquota de importação para as compras de até US$ 50 feitas nas empresas que aderissem ao Programa Remessa Conforme.

Em contrapartida, essas compras passariam a recolher tributos estaduais, em destaque o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

O ICMS para compras internacionais é de 17%. Desse modo, as compras de US$ 50 já tem um valor de imposto incidente de US$ 8,50 — ou R$ 45,22, na cotação desta sexta.

Logo, somando R$ 266 com o imposto estadual, o valor dessas transações chega a R$ 311,22.

Com o Imposto de Importação de 20%, que é federal, a taxação pode ser feita de duas maneiras:

Imposto sobre o valor da compra

Uma das opções é cobrar os dois impostos sobre o valor da compra. Desse modo, além dos recolhidos R$ 45,22 pelo ICMS, seriam cobrados mais R$ 53,20 (US$ 10) —  20% ante a cotação do dólar no fechamento de sexta, chegando a R$ 364,42.

Caso a taxação seja feita dessa maneira, a variação do preço — em relação ao que já é cobrado hoje com ICMS — seria de 17,1%.

Imposto sobre imposto

Segundo Daniel Feitosa, sócio do escritório Ernesto Borges Advogados, outra possibilidade que também é apontada é o imposto estadual ser aplicado sobre o valor do produto somado ao federal.

Desse modo, o ICMS seria aplicado sobre o valor de R$ 319,20 (os US$ 50 da compra mais os US$ 10 do Imposto de Importação), ficando em R$ 54,26.

Os R$ 373,46 resultantes representariam uma alta de 20% em relação ao que é cobrado hoje.

Impacto

A medida vem de uma revindicação da indústria e do comércio nacional, que se viu prejudicado pela isenção aplicada as compras internacionais.

De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a desigualdade na tributação entre os produtos brasileiros e os vindos do exterior “estava impactando a vida das pessoas”, fazendo com que elas perdessem empregos e precisassem fechar suas lojas.

Em coletiva de imprensa dada na sexta-feira (7), Haddad reforçou que a proposta final foi acordada após longa conversa com todos os setores e frentes parlamentares.

Setores apontam que a medida é um primeiro passo, mas que a taxa de 20% ainda é insuficiente.

O economista da Nomos, Beto Saadia, reconhece que ainda há uma desigualdade tributária grande entre as empresas daqui e as fornecedoras estrangeiras, mas aponta que a medida permite maior competitividade entre as mercadorias brasileiras e as internacionais.

Além disso, por conta da competição forte que há no setor de e-commerce, Saadia avalia que as empresas podem tender a segurar os preços e manejá-los para manter atraente ao consumidor.

“O ambiente concorrencial é muito grande. A Temu está entrando no mercado brasileiro e está fazendo uma concorrência mundial muito forte. Agora, ela mexe muito no nosso mercado”, aponta o economista.

A Shopee, uma das principais plataformas de comércio eletrônico em operação no Brasil, apoiou a medida que caminha para uma maior “isonomia tributária”.

“Queremos desenvolver cada vez mais o empreendedorismo brasileiro e o ecossistema de e-commerce no país, e acreditamos que a iniciativa trará muitos benefícios para o marketplace. Não haverá impacto para o consumidor que comprar de um dos nossos mais de 3 milhões de vendedores nacionais que representam 9 em cada 10 compras na Shopee no país”, comenta a empresa em nota.

Mas na ponta oposta, também há plataformas que vêm criticando a medida, que para o Aliexpress, “não levou em consideração a opinião do consumidor brasileiro”.

“Se convertida em Lei, a decisão impactará de forma muito negativa a população brasileira, principalmente aqueles de classes mais baixas, que deixarão de ter acesso a uma ampla variedade de produtos internacionais, que em sua maioria não são encontrados no país a preços acessíveis”, defende em nota a plataforma chinesa.

A Temu, marketplace chinês do grupo Pinduoduo, que já rivaliza com Aliexpress e Shopee, estreou no Brasil nesta quinta-feira (6), oferecendo descontos de até 90% e frete grátis.

CNN entrou em contato com a Shein, que se negou a comentar. A reportagem também entrou em contato com Amazon e Temu e aguarda retorno para atualizar a matéria.