Viatina-19 FIV Mara Móveis, ao contrário do que parece, não é o código do sofá que você pode comprar para decorar sua sala na próxima estação. É o nome de um animal – mas não um bicho qualquer. Trata-se da vaca brasileira que, em abril, entrou para o Guinness Book, o livro dos recordes, como a mais valiosa do mundo. Hoje, seu preço é estimado em cerca de R$ 21 milhões.
Viatina-19 (pronuncia-se “Vi-á-tina”) alcançou tal valor em um leilão realizado em junho de 2023, em Arandu, no interior paulista. Na ocasião, ela foi arrematada por R$ 6,99 milhões. Só? Não é bem assim. Essa foi a quantia paga pela Nelore RO por um terço da vaquinha, cuja brancura da pelagem chama a atenção (veja fotos abaixo). Com a compra, a empresa passou a dividir a propriedade do animal com a Casa Branca Agropastoril e a Agropecuária Napemo. É a soma desses três terços, portanto, que alcança os quase R$ 21 milhões.
E por que tamanha bolada? Na prática, é possível pensar na bela Viatina-19 como uma espécie de empresa que muge, ou mesmo, como um requintado banco genético ambulante. O animal está no estado da arte dos genes da raça Nelore, originária da Índia, cujos primeiros exemplares chegaram ao Brasil no final do século XVIII e hoje representam cerca de 85% do rebanho nacional.
O negócio em torno de Viatina-19, assim, consiste em comercializar essa carga genética privilegiada. Isso pode acontecer, por exemplo, com a venda de prenhezes, que são embriões da Viatina-19 com reprodutores também top da raça Nelore, implantados em mães de aluguel. Ou mesmo, com a comercialização de aspirações, óvulos retirados da vaca.
Faturamento anual
A estimativa é que, apenas em 2023, a exuberância genética de Viatina-19 tenha resultado em um faturamento de R$ 11,5 milhões. Hoje, uma filha do animal chega a ser vendida por R$ 1 milhão – ou mais. Em maio, uma prenhez foi arrematada por R$ 3 milhões, embora a soma espetacular tenha sido alcançada num leilão beneficente, cuja arrecadação, que atingiu um total de R$ 5 milhões, foi revertida para as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.
E o negócio soa promissor. Em condições normais, a gestação de uma vaca dura nove meses e ela pode ter em torno de 10 a 12 filhos ao longo da vida. Com a fertilização in vitro, na qual a fecundação do óvulo com o espermatozoide ocorre num laboratório, isso mudou completamente. Na avaliação do zootecnista Diego Sanches Gracia, Viatina-19 já tem entre 50 e 60 filhos. “E ela nem chegou à maturidade plena”, diz o especialista.
Vai longe
A vaquinha nasceu em 17 de janeiro de 2019. Tem, portanto, 5 anos. Como reprodutora, acrescenta Gracia, ela tem “pelo menos entre 8 e 10 anos pela frente”. “Isso tranquilamente”, afirma. “Algumas vacas continuam produtivas até os 18 anos de idade.” O zootecnista observa que o animal também é filho de campeões. No caso, o touro Landau e da Viatina 03 FIV Mara Móveis, neta de Viatina da Agropecuária J. Galera.
E o que explica tantas abreviações no nome do animal, que bem poderia ser reduzido para um apelido do tipo “Vivi”, ou mesmo, “Tina”? Bem, FIV é a sigla de fertilização in vitro, Mara Móveis é o nome da fazenda onde a vaca foi criada, em Terezópolis, em Goiás, de propriedade de Silvestre Coelho Filho, que também é dono de uma rede de loja de móveis, concentrada no sul do Pará – a Mara Móveis, óbvio.
Tias, irmãs e primas
Coelho Filho está no negócio da elite da raça Nelore desde 2012 e é proprietário da maioria das Viatinas, que representam 80% do plantel do empresário. “É um volume bastante grande”, diz. “Só da Viatina-19, tenho 17 tias, 6 irmãs e pelo menos uma centena de primas.”
Ele observa que a recordista do Guinness já dava sinais de ser um fenômeno dos currais desde que começou a “ir para a pista” – como são chamados os torneios nos quais os animais desfilam para jurados. “Aos 8 meses de idade, ela já ganhava tudo”, afirma Coelho Filho. Com 42 meses, as vacas já não podem participar desses eventos. A partir daí, Viatina-19 passou a atuar de forma mais ativa no ramo genético, usado para aprimorar a raça, tornando-a mais produtiva.
Hoje, Vitamina-19, em plena atividade – e no auge da fama –, vive em Uberaba, em Minas Gerais, na Fazenda Napemo, que pertence a um dos três proprietários da vaquinha que se tornou um fenômeno da genética Nelore.