Levantamentos de empresas de análise digital mostram que sites que apoiam o presidente Jair Bolsonaro apagaram centenas de vídeos desde maio.
As informações são do Monitor do Debate Político no Meio Digital, um projeto da Universiade de São Paulo (USP) que acompanha grupos de diferentes vertentes na internet.
Em abril e maio, os pesquisadores encontraram 1.874 menções ao Supremo Tribunal Federal (STF) em canais de vídeo que dão apoio ao governo Bolsonaro.
“Uma parte delas fazia críticas completamente lícitas e outra parte fazia ataques, inclusive fazendo citação ao fechamento do STF. Por meio de uma intervenção militar ou por meio de uma intervenção direta do poder executivo, algo parecendo um golpe, elas comprometem o próprio regime democrático”, disse Pablo Ortellado, professor de Gestão de Políticas Públicas da USP.
Porém, 25 dos 100 vídeos mais vistos, segundo os pesquisadores, foram apagados por quem postou, e, por isso, não estão mais disponíveis.
Vídeos Deletados
Outro levantamento mostra o número de vídeos de canais bolsonaristas que saíram do ar desde junho do ano passado. Veja abaixo:
- junho/2019: 8
- janeiro/2020: 1.136
- maio: 1.112
- junho: 2.015
De acordo com Guilherme Felitti, fundador da Novelo Data, empresa que realiza o levantamento, esses vídeos foram retirados da lista do site, ou só podem ser acessados por meio de um link.
“A gente tem percebido que entre maio e junho acelerou um processo de vídeos deletados, ou que sumiram das contas de 81 canais que estão alinhados com o bolsonarismo no YouTube Brasil. Coincidência ou não, nesse período de aceleração dos vídeos desaparecidos, você tem um inquérito de fake news instaurado pelo STF”, disse Felitti.
Inquérito
Em 27 de maio, a Polícia Federal cumpriu em cinco estados e no Distrito Federal 29 mandados de busca e apreensão expedidos pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Entre os alvos, o blogueiro Allan dos Santos, o empresário Luciano Hang, o deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP) e a extremista de direita Sara Geromini. O inquérito investiga a divulgação de informações falsas sobre o STF e ameaças a ministros e a parentes deles.
Em fevereiro desse ano, o presidente do STF, o ministro Dias Toffoli, ja tinha ressaltado essa tendência nas redes ao afirmar ao site “Consultor Jurídico” que o inquérito das fake news tinha inibido ações que geram “instabilidade institucional”. Toffoli afirmou que da noite para o dia, mais de 70% das fake news que rodavam nas redes sociais desapareceram.
Especialistas em direito digital dizem que as empresas não são obrigadas a manter o vídeo depois da remoção mas que, se houver ordem judicial, podem colaborar enviando o conteúdo que eventualmente ainda esteja armazenado, e que pode ser decisivo na investigação.
“Se você consegue demonstrar um apagamento intencional, com a intenção de dificultar a ação da justiça, você agir com a intenção de ocultar provas, apagar provas pra dificultar a ação da justiça sim, pode ser também entendido e configurado como uma prática criminosa”, disse Patrícia Peck, advogada especialista em direito digital.