Sequelas da Covid-19 podem persistir por longo prazo até em casos leves

Infecção pelo novo coronavírus pode deixar efeitos respiratórios, cardiológicos e neurológicos

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Pouco mais de um ano depois do surgimento dos primeiros casos de Covid-19, cientistas ainda tentam entender os efeitos da doença sobre o corpo e por quanto tempo eles podem durar. 

Uma pesquisa publicada na última semana no periódico médico Jama Network mostrou que 30% dos participantes ainda relatavam sintomas nove meses após contrair o vírus. A maior parte dos indivíduos acompanhados pelo estudo tiveram casos leves da doença. 

Fadiga e perda do olfato ou paladar foram os sintomas mais comuns, mas problemas para respirar e confusão mental também foram relatados por alguns. 

No Brasil, já há hospitais que oferecem reabilitação especializada para esses pacientes que continuam a sentir os efeitos da doença. 

Heron Rached, coordenador do Centro de Cardiologia e do Centro de Tratamento Pós-Covid do Grupo Leforte, conta que vê um paralelo entre a gravidade da infecção e as sequelas deixadas.

“Pacientes com infecções mais graves vão apresentar mais sequelas, a relação é proporcional. Mas isso não quer dizer que pacientes com infecções moderadas não apresentem”, diz. 

Ele cita um estudo, também publicado no Jama Network, em que pacientes pós-Covid foram submetidos a tomografias cardíacas. Dentre esses, um terço havia sido hospitalizado; o restante recebeu atendimento em pronto-socorro ou se tratou em casa e 78% deles tinham alguma sequela no coração. 

“O que é importante que esse estudo mostra é que, mesmo que esses pacientes não sintam nenhuma manifestação clínica dessa alteração, existe uma sequela que não foi documentada. Precisamos ver como esses efeitos vão evoluir daqui a cinco, dez, quinze anos”, diz. 

Para ele, haverá um aumento de doenças associadas a esses efeitos no futuro. “Vai ser difícil atribuir a sequela à Covid, porque não temos como isolar e dizer que foi o vírus. Mas a prevalência de insuficiências renais, cardíacas, arritmias e infartos vai aumentar como resultado da pandemia”, afirmou.

“Isso é o que a gente está vendo no dia a dia: pacientes que tinham lesões estáveis que passaram a instabilizar depois de contrair a Covid”. 

Karina Tavares, fisioterapeuta do departamento de pacientes graves do Hospital Israelita Albert Einstein, cita ainda outras sequelas que podem ser deixadas pelo vírus. 

Além do impacto respiratório, muscular, cardíaco e neurológico, ela lembra da parte psicológica. “Tem a questão do estresse pós-traumático, que pode acontecer com qualquer doença grave, mas que é agravado com a Covid, dá mais medo por ser uma doença nova”, disse. “A pandemia também aumenta a ansiedade e transtornos psiquiátricos”.

Na experiência dela, a maior parte dos pacientes relata fadiga, que pode tanto estar relacionada à parte respiratória – afetada pela infecção – quanto à parte muscular, já que o paciente fica em repouso e tem menos apetite durante a fase aguda da doença. 

Tratamento 

Rached, do grupo Leforte, ressalta a importância de procurar atendimento mesmo depois de testar negativo para o vírus.

“Imaginemos um paciente que sente um cansaço, mas que não faz o acompanhamento porque era tolerável. A longo prazo, ele pode ter um acometimento maior e um comprometimento da capacidade respiratória. Se ele tivesse sido acompanhado, poderíamos ter tratado anteriormente, com prejuízo menor à saúde”, diz. 

Ele diz que o programa de reabilitação é prescrito conforme a necessidade do paciente e pode envolver fisioterapia e exercícios de recondicionamento. 

Tavares, do Einstein, complementa e diz que o paciente pode precisar de acompanhamento psicológico, de um terapeuta ocupacional e, às vezes, até de um fonoaudiólogo, pelos danos causados pela intrubação.

“Tem várias áreas de atuação possível”, declarou ela, acrescentando que, assim como não há protocolo padrão, ainda não há tempo estimado para o tratamento.

“É importante destacar que não é todo mundo que vai ter sequela pós-Covid. Tudo depende de como cada indivíduo vai evoluir. Também não há um tempo de recuperação estimado. Alguns vão demandar um tempo maior de reabilitação”, afirmou. 

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