“Os materiais foram encontrados no início dos anos 2000, mas não tinham uma identidade estabelecida como mamíferos, eles estavam estabelecidos como répteis, estavam fora do quadro mamário”, explica o paleontólogo Sergio Furtado Cabreira, doutor em Geologia pelo Programa de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O pesquisador foi orientado pelo professor Cesar Leandro Schultz, que também assina o trabalho ao lado de pesquisadores de diferentes instituições e áreas.
Cabreira explica que o animal foi descrito desde 2003 na literatura internacional pelo paleontólogo José Bonaparte, mas que, naquele momento, “inexistiam ferramentas acadêmicas para analisar a biologia do animal”. Os pesquisadores criaram, então, um novo método que consiste em analisar a dentição de um conjunto de três mandíbulas.
“Nossa pesquisa demonstrou, através de análises de microscopia das mandíbulas e dos dentes, que estes pequenos animais já apresentavam difiodontia, isto é, apenas uma dentição permanente substituindo a dentição de leite”, explica Cabreira. Dessa forma, foi possível constatar que a substituição dos dentes ocorreu dentro de um “padrão tipicamente mamariano placentário”, explica.
O pesquisador afirma que o grupo começou a estudar o material em 2004 e, “ao longo dos últimos anos a gente vem agregando ferramentas teóricas para que pudéssemos interpretar as lâminas histológicas”. Ele destaca que mandíbula do animal tem cerca de 2 centímetros.
De acordo com Cabreira, a descoberta muda o paradigma do que era entendido até então como os primeiros caracteres mamarianos. “Os métodos atuais de classificação do que é um mamífero vão ter que se readequar”, afirma o pesquisador, incluindo a bibliografia acadêmica sobre a genética da origem dos mamíferos.
“O que nós estamos vendo é que os mamíferos são muito mais antigos do que se pensava”, afirma.
A UFRGS tem um exemplar dos fósseis que foram estudados em exposição no Museu de Paleontologia, juntamente com a sua reconstituição. A visitação é gratuita, mas precisa de agendamento em caso de grupo de mais de seis pessoas.
O Museu Museu de Paleontologia Irajá Damiani Pinto fica no Campus do Vale, no bairro Agronomia, em Porto Alegre, abre todos os dias das 9h ao meio-dia e das 14h às 17h, exceto nas segundas à tarde. Na página do museu, também é possível fazer os agendamentos e um Tour Virtual