Cientistas descobrem que eliminar resíduos cerebrais pode ajudar a tratar Alzheimer

Os resultados são consistentes e indicam que o processo pode também ajudar no tratamento de Parkinson, dores de cabeça e depressão.

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O desafio dos neurocientistas em curar e prevenir o Alzheimer e doenças neurológicas pode estar próximo. Pesquisadores acreditam que ao eliminar resíduos cerebrais será possível para ajudar no tratamento ao Alzheimer. Há cerca de 170 bilhões de células no cérebro e, enquanto fazem suas tarefas, produzem resíduos extras, considerados sem necessidade.

Os cientistas identificam esses resíduos “extras” são como detritos que precisam ser eliminados. Duas equipes de cientistas publicaram três artigos que oferecem uma descrição detalhada do sistema de remoção de resíduos do cérebro. A revelação colabora para o tratamento e prevenção do Alzheimer, entre outros transtornos mentais e neurológicos.

Publicados na revista científica Nature, os artigos sugerem que, durante o sono, ondas elétricas lentas empurram o fluido ao redor das células, das profundezas do cérebro para a superfície. Lá, há um movimento que faz com que os resíduos desse fluido sejam absorvidos pela corrente sanguínea, passando pelo fígado e pelos rins até serem eliminados.

Evidências sobre o Alzheimer

Estudos recentes sobre o Alzheimer mostram que que, na doença, o sistema de remoção de resíduos do cérebro fica prejudicado. As novas descobertas devem ajudar na compreensão sobre onde está o problema para corrigi-lo.

Os pesquisadores já sabem que os fatores que agravam a doença são os mesmos que atrapalham o processo para eliminar os resíduos cerebrais.

Cientistas examinaram a possibilidade de “restaurar o sistema de drenagem” para prevenir o Alzheimer. Maiken Nedergaard, pesquisador dinamarquês, que trabalha em um dos estudos, disse que analisam a presença de fluidos claros dentro e ao redor do cérebro como forma de eliminar resíduos.

Os cientistas chamam esse sistema de “glinfático” numa referência ao sistema linfático do corpo, que ajuda a combater infecções, manter os níveis de fluidos e filtrar resíduos e células anormais.

Ambos os sistemas funcionam como o encanamento de uma casa, diz o pesquisador Jonathan Kipnis, da Universidade de Washington em St. Louis, autor de dois dos novos artigos. “Você tem os canos de água e os canos de esgoto”, afirma Kipnis. “Então a água entra limpa, e aí você lava as mãos, e a água suja sai.”

Mas o sistema linfático usa uma rede de tubos finos que transportam resíduos para a corrente sanguínea. O cérebro não tem esses tubos. Então, os cientistas passaram décadas tentando responder a uma questão fundamental, diz Kipnis.

Testes em animais

A pesquisa em animais mostrou que, quando estão dormindo, o fluido cerebrospinal começa a circular rapidamente pelo cérebro, eliminando os resíduos. Os cientistas perceberam que, ao medir a onda, também se verificava o fluxo do fluido intersticial, o líquido encontrado nos espaços ao redor das células, e notava-se que havia uma atividade dos neurônios para empurrar as bombas em direção à superfície do cérebro.

Por sua vez, os cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts concluíram que há evidências de que ondas elétricas lentas ajudam a eliminar resíduos. A equipe usou ratos que desenvolveram uma forma de Alzheimer.

Os pesquisadores expuseram esses ratos a rajadas de som e luz que ocorreram 40 vezes por segundo. A estimulação induziu ondas cerebrais nos animais que ocorreram na mesma frequência lenta.

Testes mostraram que as ondas aumentaram o fluxo de fluido cerebrospinal limpo para dentro do cérebro e o fluxo de fluido sujo para fora do cérebro. Eles também mostraram que o fluido estava carregando amiloide, a substância que se acumula nos cérebros de pacientes de Alzheimer.

Eliminação dos resíduos cerebrais

Os novos estudos sugerem que manter o sistema de eliminação de resíduos do cérebro funcionando requer duas etapas distintas: uma para empurrar os resíduos para o líquido cefalorraquidiano, que envolve o cérebro, e outra para movê-los para o sistema linfático e, eventualmente, para fora do corpo.

Embora os testes tenham sido feitos em animais, são considerados consistentes sobre os apectos que contribuem para gerar distúrbios neurodegenerativos, como o Alzheimer.

Para os pesquisadores, não restam dúvidas de que o sistema de eliminação de resíduos do cérebro pode ser prejudicado pela idade, lesões e doenças que obstruem os vasos sanguíneos no cérebro.

Todos esses fatores são apontados como agravantes para o desenvolvimento do Alzheimer.

Cientistas analisam que o processo de remoção de resíduos pode ajudar também no tratamento da Parkinson, dor de cabeça e depressão.