Pela segunda vez na história em 53 anos, o Rio Acre, principal manancial do estado, se igualou nesta sexta-feira (20) à menor cota já registrada, de 1,25 metro. A medição, divulgada pela Defesa Civil municipal, ocorreu em menos de dois anos e diante de um cenário crítico de poluição do ar, apontado como ‘perigoso’ pelas plataformas de monitoramento desde o dia 2 de setembro.

A última vez que o Rio Acre chegou a 1,25 metro foi em 2 de outubro de 2022, ou seja, há menos de dois anos. Naquela ocasião, o manancial chegou a 1,29 metro em 11 de setembro e levou 21 dias para chegar à menor cota histórica.

Nesta mesma data em 2023, o rio estava 25 centímetros acima do registrado nesta sexta (20), com 1,50 metro segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema). Na comparação com 2022, a redução é ainda pior: na mesma data, o Rio Acre tinha 1,88 metro. (Veja abaixo)

Na última quinta (19), o nível era de 1,27 metro, ou seja, dois centímetros acima do cenário atual. Essa nova baixa do nível já era prevista pela Defesa Civil Municipal, que faz medições diárias desde 1971. Até esta sexta, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) registrou 62,40 milímetros de chuva.

O manancial em Rio Branco se encontra abaixo de 4 metros há mais de três meses, e está abaixo de 2 metros há exatos 96 dias.

Em meio à fumaça que encobre Rio Branco, Rio Acre marca 1,25 metro e número iguala ao registrado em outubro de 2022 — Foto: Jardel Angelim/Rede Amazônica

Seca

O governo do Acre decretou emergência por conta da seca em 11 de junho, com validade até 31 de dezembro deste ano. Já a capital publicou o decreto em 28 de junho, com situação reconhecida pelo governo federal quase um mês depois, em 24 de julho.

Agora, em um cenário de seca que começou antes do esperado, no final de maio, a avaliação do órgão é que é possível ultrapassar a marca histórica de 2022. Segundo a Defesa Civil estadual, já há um plano de contingência para a situação, que abrange abastecimento na zona rural.

“Todos nós somos afetados pela seca extrema e suas várias consequências. Há impacto na produção, na agricultura, na pecuária, no abastecimento de água potável, incêndios florestais que emanam gases que afetam a saúde de todos nós”, explica o coordenador do órgão, coronel Carlos Batista.

O diretor-presidente do Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb), Enoque Pereira, disse também que apesar de o Rio Acre ter previsão de registrar uma cota menor que de 2022, a autarquia trabalha para que a vazão de água seja de 1,5 mil litros por segundo, para não comprometer o abastecimento da cidade. Desde junho, equipes da Defesa Civil Municipal levam carros-pipas para atender os moradores dessas regiões.

“Para o ano de 2024, mesmo com todas as previsões de ser uma das secas mais severas dos últimos anos, o Saerb garante que manterá o abastecimento de Rio Branco, salvo em caso de colapso total do Rio Acre”, complementou.

Os prejuízos incluem ainda:

🚰 Bacia em situação de seca: Toda a bacia do Rio Acre em situação de alerta máximo para seca, agravada em razão da falta de chuvas na região, situação que já perdura há dois meses;
👨🏽‍🦲 População impactada: Mais de 387 mil pessoas são afetadas nas zonas urbana e rural de Rio Branco;
⚠️ Prejuízos: como resultado da seca, produtores perderam plantações e houve queda nas vendas. O baixo nível do manancial também afeta o transporte das mercadorias.

Neste ano, o cenário ocorreu antes do previsto, já que no dia 3 de setembro o manancial alcançou 1,30 metro e ficou em oscilação. O maior nível do mês foi de 1,32 metro, sendo que a oscilação ocorreu após fortes chuvas que caíram na região.

Em 2016, o Rio Acre atingiu 1,30 metro pela primeira vez. Esta marca foi, na época, considerada a pior da história da capital acreana. O Departamento de Pavimentação e Saneamento do Acre (Depasa) chegou a gastar mais de R$ 2 milhões em equipamentos e insumos para manter o abastecimento na cidade na época.

Depois de chegar até a marca, o rio voltou a subir, mas foram necessários mais nove dias até que voltasse a ficar acima dos dois metros.

Extremos climáticos

⚠️Especialistas ouvidos pelo g1 já apontavam para a possibilidade de seca antecipada antes da publicação do decreto de emergência, quando o Rio Acre marcou 2,52 metros no dia 30 de maio, a menor marca para o mês. Desde o início de junho até este sábado, o nível do rio baixou 61 centímetros.

A situação contrasta com a vivenciada no início do ano, entre fevereiro e março, quando o manancial transbordou, e o total de chuvas chegou a 438 milímetros. Naquele momento, Rio Branco passou pela segunda maior enchente de sua história e fez com que mais de 11 mil pessoas deixassem suas casas.

Rio Acre em março de 2024, quando manancial avançou o Calçadão da Gameleira; e em 20 de setembro, quando igualou à menor cota da história — Foto 1: Pedro Devani/Secom-AC — Foto 2: Pedro Devani/Secom-AC

Toda a Bacia do Rio Acre está em situação de alerta máximo para seca desde o dia 20 de junho, agravada em razão da falta de chuvas na região. Esta situação generalizada perdura há três meses.

Foi montado um gabinete de crise para discutir e tomar as devidas medidas com redução dos índices de chuvas e dos cursos hídricos, bem como do risco de incêndios florestais. O decreto com a criação deste grupo foi publicado no dia 26 de junho, em edição do Diário Oficial do Estado (DOE), e fica em vigência até dia 31 de dezembro deste ano.

No ano passado, o decreto de emergência foi publicado em outubro. O coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Carlos Batista, disse que o plano estadual de contingenciamento já foi elaborado.