Interpol pede prisão de rondoniense que fugiu para o Líbano

Turquia investiga como executivo brasileiro chegou ao Líbano, ao fugir do Japão.

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Líbano recebeu um pedido de prisão da Interpol contra o brasileiro e ex-executivo da Nissan e Renault Carlos Ghosn, de 65 anos, que fugiu de Tóquio para Beirute na véspera do réveillon, depois de permanecer 130 dias preso à espera de julgamento, marcado para abril.

O anúncio foi feito pelo ministro libanês da Justiça, Albert Sarhane. Após uma fuga espetacular, Ghosn, que tem tripla cidadania (brasileira, francesa e libanesa), processado no Japão por crimes financeiros, chegou ao Líbano na segunda-feira, onde seu local de residência permanece desconhecido.

A Interpol não emite mandados de prisão e não pode iniciar investigações, ou processos, mas os países-membros e tribunais internacionais podem solicitar a publicação de “alertas vermelhos”.

Esses avisos de busca internacional são baseados em mandados de captura nacionais, cujas informações são transmitidas aos outros membros por meio de um banco de dados seguro.

A chegada do brasileiro ao Líbano tem provocado uma série de problemas diplomáticos entre os países pelos quais ele teria passado antes de desembarcar em Beirute. Ontem, o governo do país negou as alegações de que o presidente Michel Aoun recebeu Carlos Ghosn em sua chegada.

A imprensa informou que o empresário, que tem nacionalidades libanesa, francesa e brasileira, foi recebido por Aoun, uma informação negada pela presidência. “Ele não foi recebido na Presidência e não se encontrou com o presidente da República”, disse uma autoridade.

As autoridades francesas disseram que Ghosn não será extraditado se for à França. Segundo o canal de televisão público japonês NHK, a Justiça japonesa permitiu excepcionalmente que ele mantivesse seu segundo passaporte francês em um cofre, cuja chave estava na posse de seus advogados.

As autoridades libanesas já anunciaram que Ghosn entrou no país “legalmente”, com um passaporte francês e uma carteira de identidade libanesa, segundo uma fonte da Presidência.

Já a Segurança Geral assegurou que nada impunha “a adoção de procedimentos contra ele”, nem “o expunha a processos judiciais” no Líbano. O ministério das Relações Exteriores do Líbano também lembrou que não há “acordos de cooperação judicial”, ou de extradição com o Japão.

DÚVIDAS

As autoridades turcas prenderam várias pessoas suspeitas de ajudar o ex-CEO da aliança Renault-Nissan a chegar ao Líbano a partir de Istambul, após sua fuga do Japão, onde seria julgado, informa a imprensa local. De acordo com a agência de notícias DHA, a polícia prendeu sete pessoas, incluindo quatro pilotos, sob suspeita de auxiliar Ghosn a viajar ao Líbano a partir de um aeroporto de Istambul, onde ele chegou em um voo procedente do Japão.

O ministério do Interior iniciou uma investigação para determinar as condições nas quais Ghosn conseguiu transitar pela capital econômica da Turquia, informou o canal NTV.

Carlos Ghosn afirmou ontem que organizou “sozinho” sua partida do Japão, onde é processado por peculato financeiro, em direção ao Líbano, negando qualquer envolvimento de sua família.

“As alegações na mídia de que minha esposa Carole e outros membros da minha família tiveram um papel importante na minha partida do Japão são falsas e mentirosas. Fui eu quem organizou minha partida. Minha família não teve nenhum papel”, garantiu Ghosn em um breve comunicado de imprensa.

ENTENDA O CASO

» Natural de Guajará-Mirim (RO), Carlos Ghosn tem 65 anos e é filho de mãe francesa e pai libanês. Iniciou sua carreira trabalhando para a Michelin, na França. Em 1996, ingressou na Renault. Após a montadora francesa adquirir participação na Nissan, ele se juntou à companhia japonesa, da qual foi presidente entre 2001 e 2017.

» Em 1999, ganhou fama internacional ao reestruturar a Nissan e salvar a companhia, então com dívidas de U$ 35 bilhões devido em boa parte ao inchaço e a cultura de trabalho adotada pela montadora.

» O brasileiro foi o principal articulador da junção Renault-Nissan-Mitsubishi, que se tornou a quarta maior indústria do setor automotivo mundial

» Ghosn foi preso sob a acusação de ter informado ao Fisco japonês rendimentos menores do que os efetivamente recebidos. Ele é acusado ainda de usar bens da Nissan para benefício próprio, provocar prejuízo em transação financeira e transferir dívida pessoal para a montadora

» Após sua prisão, Nissan e Mitsubishi afastaram Ghosn da presidência de seus respectivos conselhos de Administração. A Renault, inicialmente, não destituiu o executivo de seus cargos, nomeando interinos para substituí-lo

» Na montadora francesa, ele era o presidente-executivo, que toca o dia a dia da empresa, e o presidente do Conselho, que cuida das questões estratégicas

» Em janeiro de 2019, o executivo brasileiro renunciou às funções que tinha na Renault

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