Médicos corrigem Bolsonaro e afirmam que atletas podem adoecer por coronavírus

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A declaração do presidente Jair Bolsonaro em pronunciamento na última terça-feira de que pelo histórico como atleta ele não teria complicações pelo novo coronavírus não se aplica à realidade. O Estado conversou com dois médicos infectologistas para entender como funciona o contágio no organismo de esportistas de alto rendimento e a resposta é que o estilo de vida atlético e saudável não é garantia de proteção.

Segundo a consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Eliana Bicudo, os atletas têm como principal vantagem contra qualquer doença o estilo de vida saudável e a rotina de treinos. “O fato do indivíduo ser atleta e não ter comorbidades como hipertensão, sobrepeso e uso de cigarro leva com que o paciente tenha uma resposta melhor ao tratamento. Mas ele não deixaria de pagar coronavírus apenas por ser atleta”, explicou.

A médica afirmou que não há estudos voltados especificamente ao impacto do novo coronavírus de acordo com o estilo de vida das pessoas, seja atleta ou sedentário. Os levantamentos realizados até agora focaram somente na faixa etária dos pesquisados. Porém, mesmo que não possam desenvolver quadros graves, os esportistas podem ser vetores da doença. “Os atletas adquirem a doença e podem transmitir igualmente, inclusive com quadros leves e assintomáticos”, disse.

Na longa lista de atletas infectados pelo novo coronavírus há relatos de complicações. O sul-africano campeão olímpico na natação em 2012 Cameron van der Burgh, de 31 anos, revelou nas redes sociais que tem sofrido com a doença. “De longe, o pior vírus que já sofri. Qualquer atividade física como andar me deixa exausto por horas. A perda de condicionamento no corpo tem sido imensa”, escreveu no Twitter.

Outra vítima da pandemia foi o jogador de vôlei francês Earvin Ngapeth, de 29 anos. Dias atrás ele publicou uma foto em uma cama de hospital. “Já deixei para trás o mais difícil. Passei três dias complicados, mas agora acabou, vou deixar o hospital em uma semana”, disse em publicação no Instagram.

O consultor da SBI, Wladimir Queiroz, explicou que como de maneira geral os atletas são jovens e de boa saúde, dificilmente vão desenvolver os quadros mais graves da doença. Mas isso não garante que no futuro esses mesmos esportistas não podem vir a se tornar perfis de risco para o novo coronavírus.

“Tem ex-atletas que são obesos, sedentários e com idade avançada. É o caso do presidente. Não adianta falar do passado, se o presente dele é ter 65 anos de idade. Mesmo que tenha sido atleta, a idade aumenta os riscos de fatores de risco, como hipertensão e diabetes”, disse o médico. Queiroz afirmou que devido à complexidade genética, não se pode generalizar e cravar que um atleta estará imune à pandemia.

“Medicina não é matemática. Nada é 100%. Existe fatores de risco que ampliam o agravamento da doença, mas tem o imponderável, que é a constituição genética. Mesmo que você pegue 10 indivíduos com a mesma condição física de atleta, nem todos vão responder da mesma maneira porque nem todo organismo está preparado para uma mesma doença”, explicou.

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