Mais de R$ 2 bilhões destinados exclusivamente ao enfrentamento do coronavírus em estados e municípios estão parados há mais de um mês. O dinheiro é proveniente de emendas parlamentares de bancadas estaduais, e foi anunciado em 2 de abril, por meio da Medida Provisória 941.
Até esta quarta-feira (6), R$ 1,48 bilhão desta soma são considerados “comprometidos”, ou seja, reservados para pagamento. Porém, nem um centavo foi pago, efetivamente.
Quando o G1 entrou em contato com o Ministério da Saúde, na terça-feira (5), o valor reservado era de apenas R$ 1,7 milhão.
Esses R$ 2 bilhões são uma parte do orçamento de R$ 11,9 bilhões vindo de emendas, sejam de bancadas, ou por ações individuais, previstos para 2020. Deste total, R$ 6,9 bilhões já foram reservados, e R$ 3,9 bilhões já foram pagos.
De acordo com o Ministério da Saúde, a verba destinada ao combate à Covid-19 proveniente de emendas é de R$ 8,4 bilhões sendo que R$ 5,2 bilhões são de emendas individuais e R$ 3,2 bilhões vêm de emendas de bancada, como esses recursos que estão parados.
Para onde vai o dinheiro?
Os R$ 2,1 bilhões da MP 941 foram solicitados pelas bancadas parlamentares estaduais, por meio de emendas, como uma forma de realocar parte do orçamento para o combate à Covid-19.
“Foi aberta uma janela de tempo, e dada uma oportunidade às bancadas de destinar recursos a uma ação específica”, disse Gil Castello Branco, economista da ONG Contas Abertas.
Foram 73 emendas, de 22 estados. Apenas as bancadas de Espírito Santo, Mato Grosso, Paraná, Piauí e Santa Catarina não apresentam propostas.
Dos estados que fizeram emendas, São Paulo e Pará foram os que mais solicitaram recursos para a ação exclusiva de combate ao coronavírus, com R$ 219,5 milhões, cada. Veja, na tabela abaixo, quanto cada unidade da federação requisitou:
Recursos de emendas de bancada para o combate ao coronavírus
verba autorizada (em milhões de R$) | verba empenhada (em milhões de R$) | casos de coronavírus até 7/5 | mortes por coronavírus até 7/5 | |
Acre | 57,1 | 28,1 | 1014 | 36 |
Alagoas | 89,6 | 73,7 | 1867 | 98 |
Amapá | 109,1 | 59,2 | 2197 | 61 |
Amazonas | 116,8 | 116,8 | 10099 | 806 |
Bahia | 211,5 | 126,9 | 4528 | 165 |
Ceará | 181,1 | 181 | 14449 | 932 |
Distrito Federal | 70,8 | 50,4 | 2296 | 35 |
Espírito Santo | 0 | 0 | 3984 | 157 |
Goiás | 107,8 | 78,6 | 1056 | 41 |
Maranhão | 131,2 | 126,1 | 5907 | 330 |
Mato Grosso | 0 | 0 | 407 | 14 |
Mato Grosso do Sul | 5,5 | 0 | 326 | 11 |
Minas Gerais | 34,2 | 0 | 2779 | 106 |
Pará | 219,5 | 0 | 5834 | 447 |
Paraíba | 27,3 | 15,6 | 1850 | 111 |
Paraná | 0 | 0 | 1656 | 104 |
Pernambuco | 92,6 | 85,1 | 10824 | 845 |
Piauí | 0 | 0 | 1131 | 37 |
Rio de Janeiro | 97,7 | 97,7 | 14156 | 1394 |
Rio Grande do Norte | 65,3 | 39 | 1821 | 81 |
Rio Grande do Sul | 99,3 | 63,9 | 2220 | 91 |
Rondônia | 31 | 31 | 1102 | 37 |
Roraima | 58,5 | 49 | 1124 | 16 |
Santa Catarina | 0 | 0 | 3082 | 63 |
São Paulo | 219,5 | 214,3 | 40015 | 3208 |
Sergipe | 56,9 | 46,2 | 1214 | 25 |
Tocantins | 31,3 | 2 | 494 | 9 |
TOTAL | 2.113,6 | 1.484,6 | 137.432 | 9.260 |
Inicialmente, os mais de R$ 2 bilhões são classificados como “Autorizados”, quando as despesas estão previstas no orçamento. Esse é o primeiro de 4 passos de um dinheiro no orçamento.
A etapa seguinte é o comprometimento do uso do dinheiro. É onde estão os R$ 1,48 bilhão citados acima.
Na sequência, as verbas são executadas. Isso ocorre quando existe a entrega do produto ou a prestação do serviço, seja total ou parcial. Só aí o pagamento é feito.
Emendas x número de casos
Ao cruzar os dados das emendas de bancadas estaduais com o número de casos e mortes registrados pelas secretarias estaduais de saúde, é curioso observar que alguns estados em que coronavírus avança mais rapidamente não estão entre os maiores beneficiários das verbas do governo.
O Rio de Janeiro, por exemplo, é o segundo estado com maior número de casos e mortes. No entanto, a soma das verbas de bancada é apenas a décima maior do país.
O mesmo acontece com Pernambuco, que fica logo atrás do Rio nos pedidos de verbas de bancada, mas é o quarto estado brasileiro com maior número de casos e mortes pela Covid-19.
Minas Gerais, o 11º estado em casos de coronavírus foi o quinto que menos pediu dinheiro por meio de sua bancada.
Pior que eles estão Espírito Santo e Santa Catarina, respectivamente nono e decido estados com maior número de casos confirmados de Covid-19, que sequer pediram verbas para o combate da doença por meio de emendas de bancada.
Ministério diz que já repassou R$ 5 bilhões
Na última quarta-feira, em apresentação no Senado, o Ministério da Saúde afirmou que já repassou R$ 2,5 bilhões em emendas para os estados, e que, até o fim desta semana, iria liberar mais R$ 1 bilhão.
Questionado pelo G1 sobre a origem desses recursos, o ministério disse que eles fazem parte dos R$ 8,4 bilhões em recursos de emendas parlamentares previstos para 2020.
Veja abaixo quanto cada estado recebeu em emendas parlamentares, de acordo com o Ministério da Saúde:
Verbas destinadas pelo Ministério da Saúde aos estados
estado | valor repassado (em milhões de R$) |
Acre | 36,1 |
Alagoas | 86,9 |
Amapá | 26,8 |
Amazonas | 56,8 |
Bahia | 184,1 |
Ceará | 135,3 |
Distrito Federal | 25,2 |
Espírito Santo | 45,1 |
Goiás | 114,8 |
Maranhão | 148,7 |
Mato Grosso | 66,2 |
Mato Grosso do Sul | 71,1 |
Minas Gerais | 248,9 |
Pará | 169,6 |
Paraíba | 86,7 |
Paraná | 143,5 |
Pernambuco | 146,6 |
Piauí | 76,6 |
Rio de Janeiro | 185,1 |
Rio Grande do Norte | 52,9 |
Rio Grande do Sul | 66,7 |
Rondônia | 24,8 |
Roraima | 26,5 |
Santa Catarina | 46,7 |
São Paulo | 185,7 |
Sergipe | 26,4 |
Tocantins | 23,7 |
TOTAL | 2.507 |
Emendas são parte do orçamento
Até agora, há R$ 250 bilhões destinados pelo governo para o combate exclusivo ao coronavírus em todas as áreas.
Este orçamento inclui, por exemplo, o pagamento do auxílio emergencial, que representa quase metade dos gastos.
Até agora, foram pagos R$ 61,8 bilhões, sendo que a maior fatia foi, exatamente, para o pagamento do auxílio emergencial – pouco mais de R$ 35 bilhões, destinados pelo Ministério da Cidadania.
A verba prevista para o Ministério da Saúde é de pouco menos de R$ 19 bilhões. Desses, R$ 5,7 bilhões já foram pagos, sendo que R$ 5,3 bilhões foram enviados a estados e municípios.