Estoque de medicamentos usados em UTIs está zerado em 21 estados e no DF, diz levantamento

Os dados são do Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Com esse quadro, vidas que poderiam ser salvas estão sendo perdidas.

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Um levantamento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde concluiu que faltam medicamentos para pacientes internados nas UTIs de 21 estados e no Distrito Federal. Isso significa a perda de vidas que poderiam ser salvas.

O levantamento foi em hospitais que são referência para tratamento da Covid-19 com leitos de UTI e revela: 22 medicamentos estão em falta. São sedativos, anestésicos e bloqueadores neuromusculares usados nos pacientes que precisam ser intubados. Pelo menos um deles já acabou em 21 estados e no Distrito Federal.

A situação mais crítica é em Mato Grosso: da lista dos 22 medicamentos, 13 estão em falta no estado, 12 estão em falta no Ceará e no Maranhão; 11 no Amapá e no Tocantins; dez no Rio Grande do Norte e em São Paulo.

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde disse que o consumo aumentou muito. Há casos em que o consumo de um mês está sendo igual ao consumo de 2019 inteiro, e alerta para o risco de colapso.

“Os gestores hospitalares se comunicam e acaba que um consegue emprestando um pouquinho para o outro. E vai dando um jeito. Essa é palavra, desculpa o termo, mas é assim. Agora, se não tiver uma aquisição de grande volume para colocar produto para pelo menos 30 dias nos hospitais, podemos, sim, ter, nas próximas semanas, colapso da falta desses medicamentos, o que acarreta na impossibilidade da instituição na intubação”, explica Heber Dobis, assessor técnico do Conass.

A presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), Suzana Lobo, explica que, sem os remédios, os pacientes não podem ser intubados. Diz que não dá para tratar um paciente de forma adequada sem aplicar essas medicações.

“Eles precisam de analgésicos, eles precisam de sedativos, porque senão eles vão… Isso vai permitir uma adaptação ao ventilador, um conforto, e esses analgésicos e sedativos são fundamentais nesse processo”, afirma.

Em Barbacena, Minas Gerais, a prefeitura informou que faltam remédios em todos os hospitais. Principalmente os sedativos e bloqueadores neuromusculares. Em um hospital particular referência para a Covid-19, um protocolo novo foi montado para a substituição dos medicamentos.

“Já faz mais de 15 dias que os responsáveis técnicos das Unidades de Terapia Intensiva já revisaram o protocolo medicamentoso para buscar as drogas, que ainda tem no mercado, porém, os preços estão exorbitantes e os prazos de entrega também”, destaca a secretária de Saúde de Barbacena/MG, Marcilene Dornelas.

A mesma coisa está acontecendo no Paraná.

“Lançando mão de outros produtos, como a morfina. E esses produtos também vão sofrer escassez no mercado. Então, a gente está num panorama que estamos vivendo digamos assim, o dia a dia. Cada dia a gente vive esse dia. O amanhã, a gente não sabe”, afirma Deise Caputo, diretora do FEAS.

Além da falta de vários medicamentos, o levantamento também aponta que os que ainda estão nos estoques correm o risco de acabar. Em Mato Grosso, por exemplo, tem remédio que deve durar apenas mais cinco dias. O Ministério da Saúde diz que cabe aos estados comprar os medicamentos. Os governadores argumentam que a demanda aumentou no Brasil e no mundo todo com a pandemia e por isso estão com dificuldade de compra.

Nesta quinta (25), governadores participaram de uma audiência pública na Câmara dos Deputados. O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, do Democratas, reclamou dos preços dos remédios. “Os preços explodiram e os gestores estão com medo de comprar para depois não ter que responder eternamente por ações de improbidade”, explica.

O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, do PSB, pede ajuda do governo federal para coordenar a compra do que está em falta.

“Hoje estamos encaminhando, o fórum de governadores, um pedido ao ministro da Saúde que possa coordenar a compra de medicamentos, de insumos para ser usado nas UTIs. A coordenação é do governo federal na compra desses medicamentos, é fundamental, e o Congresso pode nos ajudar nesse trabalho”, avalia.

Enquanto isso, dentro dos hospitais, médicos e enfermeiros fazem o que podem. O neurologista Cesar Androlage, que trabalha na rede pública e particular de Cuiabá, em Mato Grosso, diz que profissionais de saúde e pacientes já perderam a guerra contra a Covid-19 pela falta de medicamentos.

“Acaba sendo desesperador tanto para nós médicos, como para a família. A mortalidade de pacientes de Covid grave está aumentando drasticamente. A gente às vezes acha que vai salvar este paciente, tem todas as possibilidades dele conseguir ter uma sobrevida melhor e ele acaba falecendo. Na verdade, está morrendo muito mais gente de Covid por falta de medicamentos do que propriamente pela doença”, afirma.

O Ministério da Saúde afirma que já adotou providências para regularizar o abastecimento dos hospitais, e que os primeiros lotes com medicamentos vão chegar nos próximos dias.

O ministério reforçou que a responsabilidade da compra é dos municípios ou dos próprios hospitais. Mas que tem ajudado os governos locais, diante das dificuldades impostas pela pandemia do coronavírus.

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