O que acontece agora no Peru, que amanheceu sem presidente após renúncia de Manuel Merino

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O Peru amanheceu esta segunda-feira (16/11) sem presidente da República, depois de uma semana conturbada de protestos que culminou com a renúncia do interino Manuel Merino (depois de apenas seis dias no cargo) e com a ausência de acordo no Congresso para nomear um substituto.

O país, um dos mais atingidos (proporcionalmente a sua população) pela pandemia do novo coronavírus no mundo, vive uma prolongada crise política: Merino é o terceiro presidente a deixar o cargo no intervalo de menos de três anos.

O capítulo mais recente dessa crise começou em 9 de novembro, quando o Congresso peruano aprovou o impeachment do presidente Martín Vizcarra, sob o argumento de “incapacidade moral permanente” depois de o mandatário ser acusado de participar de um escândalo de corrupção, algo que ele nega. No dia seguinte (10), Merino, como presidente do Congresso, assumiu interinamente o poder do país, algo que críticos chamaram de um “golpe disfarçado”.

O impeachment de Vizcarra, que ocorreu a apenas cinco meses das eleições presidenciais, provocou uma onda de protestos pelo país, os quais foram duramente reprimidos pelas forças de segurança. Ao menos dois jovens morreram nas manifestações de sábado e mais de 100 pessoas ficaram feridas.

Os protestos foram considerados uns dos maiores do Peru nos últimos 20 anos, e organizações locais e internacionais anunciam preocupação com o uso excessivo de força pela polícia e com desaparecimentos de manifestantes.

Politicamente, o apoio a Merino enfraqueceu após a renúncia da maioria de seus ministros e de críticas dentro de seu próprio partido, o Ação Popular.

Peruanos celebrando nas ruas a renúncia de Merino
Peruanos celebrando nas ruas a renúncia de Merino; Congresso ainda não definiu o sucessor do presidente

Até que, em comunicado transmitido pela TV, Merino anunciou sua renúncia neste domingo e pediu “paz e unidade ao país”.

O Congresso passou várias horas reunido em sessão extraordinária para tentar formar, sem sucesso, uma nova Mesa Diretiva da Casa e nomear um novo presidente. O nome que despontava era o da deputada Rocío Silva Santisteban, que encabeçou a lista em votação mas não conseguiu votos o bastante para ser aprovada.

Agora, está prevista uma nova sessão do Legislativo nesta segunda-feira (16/11) à tarde, para eleger um novo presidente interino a partir das listas apresentadas pelos partidos. O escolhido para presidir a Mesa Diretiva assumiria automaticamente a Presidência da República, explica à BBC News Mundo (serviço da BBC em espanhol) Heber Campos, advogado da Pontifícia Universidade Católica do Peru.

Muitas vozes, entre elas a dos milhares de manifestantes, pedem que a Mesa Diretiva seja escolhida entre os 19 congressistas que votaram contra o impeachment de Vizcarra.

“Diante da crise, encontramos como saída legítima (…) que se eleja uma nova Mesa Diretiva e com ela um novo presidente ou presidenta da República que conduza a transição”, afirmou em comunicado o grupo de especialistas peruanos Valentín. “Esse novo mandatário deve vir dos congressistas que votaram contra a vacância (da Presidência) e convocar os peruanos mais capazes e de comprovada integridade.”

O posto será ocupado até julho de 2021, quando deverá assumir o novo presidente eleito no pleito previsto para abril.

No ano 2000, quando o Congresso destituiu o então presidente Alberto Fujimori, também elegeu uma nova Mesa Diretiva no Congresso. Desse órgão, Valentín Paniagua saiu eleito como presidente interino e conduziu o Peru às eleições presidenciais de 2001.

Em meio à crise política, a população peruana tem sido duramente afetada pela pandemia do coronavírus – o país tem uma das mais altas taxas de mortalidade pela covid-19 de todo o mundo.

Com uma população de 32 milhões de habitantes, o Peru já tem 934 mil casos confirmados da doença e 35,1 mil mortes, segundo o levantamento da Universidade Johns Hopkins.

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