O ex-secretário de Comunicação da Presidência da República Fabio Wajngarten afirmou em entrevista publicada nesta quinta-feira (22) no site da revista “Veja” que o atraso do governo na aquisição de vacinas foi motivado por “incompetência” e “ineficiência” do Ministério da Saúde.
Wajngarten, que deixou a Secretaria de Comunicação no mês passado, não responsabilizou diretamente o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, mas a “equipe que gerenciava o Ministério da Saúde nesse período”. “Nunca troquei mais do que um boa-tarde com o ministro. Seria leviano da minha parte falar dele”, afirmou.
O ex-secretário se referia na entrevista ao episódio de agosto do ano passado, quando a farmacêutica Pfizer ofereceu ao governo 70 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19, com entrega prevista para dezembro. Mas o governo não quis.
Wajngarten disse ter tomado conhecimento de que a Pfizer havia enviado ao governo uma carta com a oferta de vacina, mas que o Ministério da Saúde sequer respondeu.
Ele afirmou que, a partir daí, se colocou à disposição para negociar com a farmacêutica e fez reuniões com diretores da empresa em Brasília.
“As negociações avançaram muito. Os diretores da Pfizer foram impecáveis. Se comprometeram a antecipar entregas, aumentar os volumes e toparam até mesmo reduzir o preço da unidade, que ficaria abaixo dos US$ 10. Só para se ter uma ideia, Israel pagou US$ 30 para receber as vacinas primeiro. Nada é mais caro do que uma vida. Infelizmente, as coisas travavam no Ministério da Saúde”, declarou.
Na entrevista, Wajngarten isentou de responsabilidade o presidente Jair Bolsonaro, mal orientado por auxiliares, segundo afirmou.
“O presidente Bolsonaro está totalmente eximido de qualquer responsabilidade nesse sentido. Se as coisas não aconteceram, não foi por culpa do Planalto. Ele era abastecido com informações erradas, não sei se por dolo, incompetência ou as duas coisas. Diziam que a pandemia estava em declínio e que o número de mortes diminuiria muito até o fim do ano”, afirmou.
Bolsonaro costuma atribuir a demora do avanço da vacinação no Brasil à escassez de imunizantes no mercado mundial. Mas, além do episódio da Pfizer, em outubro passado ele chegou a vetar a assinatura de um protocolo de intenções para a compra pelo governo federal da vacina CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan — atualmente, a maior parte dos brasileiros vacinados recebeu a CoronaVac.
Na ocasião, Bolsonaro desautorizou o então ministro Pazuello, que havia anunciado a assinatura do protocolo em uma reunião com governadores. No dia seguinte, em uma transmissão ao vivo ao lado de Bolsonaro, Pazuello afirmou: “É simples assim: um manda e o outro obedece”.
O ex-secretário Fabio Wajngarten disse que, se convocado, falará à CPI da Covid criada pelo Senado para apurar, entre outros pontos, ações e omissões do governo na pandemia e que dará início aos trabalhos na próxima terça-feira (27).