Bolsonaro sobre queimadas na Amazônia: ‘Como vai tomar conta disso tudo?’

Presidente admite em live semanal que há desmatamento ilegal e queimadas na floresta Amazônica, mas que são problemas pontuais e região é muito grande

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O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), está incomodado com a repercussão negativa no Brasil e no exterior da alta das queimadas na Amazônia. Um trecho considerável do início da live semanal, que foi divulgada nesta sexta-feira (19), foi dedicado ao assunto.

Primeiro, o presidente voltou a reclamar dos “péssimos brasileiros” que criticam o país e “falam mentiras sobre a Amazônia”. Em seguida, reiterou sua tese de que a floresta Amazônica não pega fogo. 

No entanto, pouco depois emendou uma confirmação de que não só a floresta sofre com queimadas, como também com o desmatamento ilegal. “Tem desmatamento ilegal? Tem. Mas é só os países não comprarem madeira nossa, é simples. Tem queimada ilegal? Tem, mas não é nessa proporção toda que dizem por aí”, declarou Bolsonaro.

“Nós combatemos isso, e alguns falam ‘ah, tem que combater mais’. Você sabe o tamanho da Amazônia? Quantos países da Europa cabem dentro da Amazônia? Como vai tomar conta disso tudo?”, disse ainda o presidente.

Pela primeira vez, Bolsonaro admite que não é capaz de controlar os crimes ambientais cometidos na região, embora as denúncias feitas ao governo federal são de que há incentivos ao garimpo e desmatamento ilegais, como o desmonte nos órgãos de fiscalização e afrouxamento de punições (como aplicação de multas e prisões).

Nesse sentido, o discurso de Bolsonaro também esbarra nos dados oficiais. De acordo com o mais recente relatório do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a área desmatada na Amazônia foi de 13.235 km² entre agosto de 2020 e julho de 2021. Essa área equivale a nove cidades de São Paulo.

Na edição anterior, o número foi de 10.851 km² entre agosto de 2019 e julho de 2020. Isso representa uma alta de 22% entre os dois relatórios. Trata-se de recorde de desmatamento em 15 anos.

Divulgação após COP26 para evitar desgastes

Os números chamaram a atenção também por outro detalhe: o governo Bolsonaro segurou a divulgação para evitar mais desgastes junto à comunidade internacional, pois os dados estavam concluídos em 27 de outubro, quatro dias antes do início da 26ª Conferência do Clima da ONU, a COP26, em Glasgow, na Escócia. 

O Inpe inseriu o relatório no sistema eletrônico de informações do governo federal naquele dia, o que permitiria a consulta aos dados, mas o documento só foi divulgado nesta quinta-feira (18). 

O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, alegou que não ficou sabendo desses números, mas somente quando foram divulgados ao público. 

“Talvez tenha sido por cautela que o Inpe tenha atrasado a divulgação desses dados, para alguma revisão, mas eu não tenho essa informação do Inpe. O que eu tenho informação é que foi divulgado hoje e nós estamos aqui deixando claro que esse número é inaceitável e nós vamos combater contundentemente o crime ambiental na Amazônia”, disse a jornalistas. “Eu tive contato com o dado hoje, exatamente como vocês devem ter tido acesso”, acrescentou.

Logo no primeiro dia da COP26, Leite anunciou que o Brasil deverá zerar o desmatamento ilegal em 2028. A meta anterior estipulava 2030.

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