A professora aposentada Sônia Maria da Costa, de 79 anos, foi vítima de uma quadrilha especializada em roubar idosos ricos. Ela foi dopada e mantida em cárcere privado enquanto os criminosos faziam saques e transferências. Mas o plano saiu do controle e a mulher morreu.
Imagens mostram Dona Sônia em uma agência bancária após fazer uma transação: cheia de saúde, cuidava sozinha da própria vida e dos negócios. Dez dias depois, estava novamente numa agência, mas de cadeira de rodas, muito debilitada e cercada por duas mulheres.
Elas levaram o dedo de Sônia até a maquininha para autorizar transferências, e movimentaram uma fortuna.
20 imóveis e R$ 5 milhões no banco
Professora aposentada, Sônia Maria Pilar da Costa é descendente de portugueses e vivia numa casa em Vila Isabel. Dona de 20 de imóveis na Zona Norte do Rio de Janeiro e também herdeira de uma quinta – uma propriedade rural em Portugal –, Sônia tinha pelo menos R$ 5 milhões no banco. Fora o que ficava em casa, porque tinha o hábito de deixar parte dos aluguéis que recebia num cofre. Mas nunca foi de esbanjar, levava uma vida simples para alguém de tantas posses.
Todos estranharam quando uma nova inquilina, recém-chegada, conseguiu se aproximar de Sônia. Era Danielle Esteves de Pinho — segundo a polícia, uma criminosa que sabia como ganhar a confiança de idosos. E que não agia sozinha.
A amizade aparentemente desinteressada escondia o início de um golpe muito bem planejado por uma quadrilha especialista em enganar e roubar pessoas com um perfil parecido: mais velhas, sozinhas e ricas. Mesmo que isso custasse a vida da vítima.
Para chegar ao dinheiro da Dona Sônia, os criminosos precisavam mais do que ter acesso à casa dela: precisavam controlá-la. E os investigadores descobriram como eles fizeram isso: passaram a dopá-la. Só que a mudança de comportamento dela despertou ainda mais desconfiança nos vizinhos.
E um fato foi marcante: ao ser procurada para uma conversa sobre contratos de aluguel, a idosa desmaiou. Os vizinhos chamaram a ambulância e ficaram surpresos ao ver que, na nessa hora, Danielle entrou na casa. Todos foram para o hospital, e o médico relatou que Sônia estava bem de saúde, mas desorientada. Na volta para casa, Sônia contou que lembrava de ter assinado uns papéis, mas não soube dizer quais.
Pouco tempo depois, os vizinhos não viram mais Dona Sônia. Ela desapareceu deixando para trás a casa e os negócios, como nunca tinha feito antes. Mas a cobrança dos aluguéis não parou.
Inquilinos desconfiaram
Os inquilinos receberam um comunicado de que todos os negócios dela seriam administrados por um escritório de advocacia. A justificativa: ela teria viajado. O escritório que deu o aviso era do advogado José Pinto — a polícia diz que ele comprou um carro conversível com R$ 200 mil de Sônia.
Mas a maioria dos inquilinos não aceitou pagar o aluguel a um estranho. Eles procuraram a polícia para denunciar o desaparecimento de Sônia no dia 14 de novembro de 2020. Logo os policiais descobriram que o patrimônio dela também estava sumindo. Na casa, o cofre onde ela tinha dinheiro estava arrombado, e relatórios de movimentação financeira mostraram saques de R$ 800 mil nas contas da idosa.
A polícia descobriu que para levar Sônia às agências bancárias sem levantar suspeitas, os criminosos a tiraram de casa e a levaram para um apartamento em Copacabana, bairro onde há muitos idosos. Os investigadores afirmam que ela ficou em cárcere privado, sendo dopada diariamente por pelo menos por três semanas. Até acontecer o pior.
A quadrilha preparou uma última farsa para tentar esconder o crime mais grave contra Sônia: a morte dela. A polícia suspeita que a idosa não aguentou tantos remédios que a mantinham drogada. Para ocultar o corpo, os criminosos enterraram Sônia com outro nome no Cemitério do Caju, Zona Norte do Rio. Foi preciso exumar o corpo para provar que o personagem criado pela quadrilha era para esconder o corpo de Dona Sônia.
O que dizem os citados
A polícia prendeu três integrantes da quadrilha, apontados pelos investigadores como participantes do golpe e do assassinato: o advogado José Pinto; a inquilina, Danielle Esteves de Pinho; e Andréa Cristina, dona da empresa que ficou com dinheiro da idosa e seria uma das chefes do grupo. Eles vão responder por extorsão com resultado em morte.
O Fantástico procurou a defesa dos acusados. Danielle Esteves conseguiu a revogação da prisão preventiva e está em liberdade. A defesa afirma que ela é inocente e que confia na Justiça.