De acordo com estudo realizado pela American Heart Association, a taxa global de mortes por pressão alta aumentou 13% na última década; Brasil aparece em sexto lugar no ranking, que abrange dados de 190 países. Fatores psicológicos, emocionais e de personalidade são apontados como os principais desencadeadores da doença, sendo o estresse o responsável por 15% dos casos resultantes em infarto.
Segundo o Ministério da Saúde, desde 2013, os episódios de infarto entre adultos com até 30 anos também subiram 13%. Os ataques cardíacos por estresse repentino provocam o fechamento de uma artéria coronária, sendo tratados como um tipo de hipertensão emocional, já que são as emoções as responsáveis pela reação do corpo.
“Além de hereditariedade, genética e estilo de vida, a pressão alta tem causas emocionais profundas. O estresse aumenta o ritmo cardíaco, acelera a respiração, libera adrenalina, noradrenalina e cortisol, colocando o corpo em estado de alerta, o que, até certo ponto, é normal e benéfico para o organismo, que fica pronto para a ação. Uma sobrecarga desses hormônios, porém, é extremamente prejudicial para a saúde”, explica Claudia Chang, especialista em endocrinologia e metabologia pela USP.
Hipertensão e estresse: relação perigosa
O estresse se desenvolve em diferentes fases. O primeiro estágio inclui o estado de alerta, e isso acontece sempre que nos deparamos com qualquer situação que nos tire de uma zona segura, incluindo imprevistos e exposição repetitiva a ambientes e situações de tensão. Trata-se de uma reação natural: o cérebro interpreta algo como perigo e nos prepara para os comportamentos de luta ou fuga.
“Na fase de alerta, o corpo aumenta a produção de adrenalina e cortisol, neurotransmissores que nos deixam mais ligados, enérgicos e preparados para a ação. Se o ativador do estresse desaparecer, o indivíduo retorna ao seu estado normal, sem prejuízos”, disse Chang.
No entanto, se o evento estressor persistir, seja no contexto real ou na sua mente em forma de preocupações, essas substâncias podem ter efeitos diversos no organismo. “A pessoa passa para um nível mais alto de estresse: a fase de resistência. Nesse estágio, os sintomas começam a se agravar e surge um intenso cansaço físico e mental.”
Caso os estímulos estressores continuem presentes, a pessoa entra em uma zona de risco: a fase de quase exaustão. “Diante de níveis elevados e persistentes de estresse, há um risco aumentado para pessoas hipertensas, que ficam mais propensas a serem acometidas por acidente vascular cerebral (AVC), infarto e outras doenças cardiovasculares.”
De acordo com a médica, que também é coordenadora e professora da pós-graduação em Endocrinologia do Instituto Superior de Medicina (ISMD), entre as principais medidas para diminuir os efeitos do estresse na pressão alta estão:
- Faça atividade física
A prática regular de exercícios físicos é recomendada como tratamento auxiliar em quase todos os quadros de saúde. Ela melhora o funcionamento dos sistemas respiratório e circulatório, reduzindo uma série de problemas, inclusive a pressão alta e o sedentarismo, responsável por 54% do risco de morte por infarto.
“O hábito reduz a pressão sanguínea e mantém os níveis normalizados durante e após a prática de atividades. Entretanto, antes de calçar o tênis e ir ao parque, é fundamental consultar um especialista e passar por uma avaliação, que indicará a melhor modalidade de exercício e o nível de intensidade adequado.”
- Controle do peso
Jamais use a comida como válvula de escape para controlar as emoções. A manutenção do peso é fundamental para evitar problemas cardíacos. Vale lembrar que a circunferência abdominal não deve passar de 102 cm para os homens e 88 cm para as mulheres.
- Evite fumar e consumir álcool
Usar o cigarro e o álcool como meio de aliviar o estresse pode se virar contra você. As substâncias químicas presentes no tabaco provocam o estreitamento das artérias, aumentando a frequência cardíaca e a pressão arterial. Em relação às bebidas alcoólicas, não exagere: o etanol danifica as células musculares do coração e ainda está associado ao desenvolvimento de arritmias.
- Monitore a pressão
Pensar em alternativas para reduzir o estresse e combater a pressão alta é uma medida valiosa para a saúde. Mas, para ver os efeitos dos bons hábitos, é imprescindível monitorar a pressão diariamente — e isso nunca foi tão prático como é agora.
Com um monitor de pressão arterial você pode verificar qualquer alteração em casa, sem precisar se deslocar até uma farmácia ou posto de saúde. Vale lembrar que os medidores são recursos necessários para o controle diário de pessoas hipertensas, mas o acompanhamento médico regular não deve ser interrompido.
- Cuide da saúde emocional
Segundo Monica Machado, psicóloga, fundadora da Clínica Ame.C e pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein; como percebemos o mundo e respondemos aos conflitos têm grande influência na saúde mental. Prova disso é que quanto mais pensamos em um determinado problema, mais nosso corpo responde com sintomas de estresse.
“Uma maneira de amenizar o estresse é desenvolver formas saudáveis de lidar com as próprias emoções. Nesse sentido, a psicoterapia surge como uma aliada para o autoconhecimento, o autocontrole e a inteligência emocional.”
- Tire um tempo para lazer e descanso
Antes que o corpo sinalize o esgotamento por meio de problemas de saúde, é essencial reorganizar a agenda e ganhar tempo para descansar e realizar atividades prazerosas.
“Vale dizer que o cotidiano atribulado não é desculpa para não seguir as dicas citadas e cultivar um estilo de vida saudável, mantendo uma alimentação equilibrada e sem excessos, e evitando hábitos nocivos, como privação de sono e consumo constante de álcool”, conclui Machado.