O Brasil sofre com o desemprego, que disparou durante a crise. Como a economia ainda não ganhou ritmo suficiente para recuperar o mercado de trabalho, a criatividade e o empreendedorismo têm sido a saída encontrada pelos brasileiros para garantir renda. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que cerca de 12,4 milhões de pessoas estão sem trabalho. Além disso, o poder de compra ficou bastante limitado. Mas as pequenas empresas têm demonstrado força e são, no geral, as que mais crescem, de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), mesmo enfrentando uma série de obstáculos.
Dos 17,5 milhões de pequenos negócios no Brasil, a maior parte está em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O faturamento médio de cada empreendimento gira em torno de R$ 27,8 mil. Do total, 42,2% pertencem ao comércio e 36,6%, ao setor de serviços. Quase metade da força de trabalho está nas pequenas e microempresas: 44,8% dos empregados formais do país.
O presidente do Sebrae, Carlos Melles, explica que a crise atingiu fortemente esse grupo de empresas por elas serem a fração mais desprotegida pelo sistema político. “A crise macroeconômica atinge grandes, médias e pequenas empresas. Mas pode ser especialmente danosa para as micro e pequenas, que são mais vulneráveis”, diz. Os obstáculos enfrentados, como acesso restrito a crédito, pouca disponibilidade de dinheiro em caixa, a dificuldade de negociação com fornecedores e credores e até mesmo a falta de planejamento e qualificação em gestão, podem tornar a vida dos donos de pequenos negócios ainda mais difícil, avalia.
Melles destaca que o que move a abertura desse tipo de negócio é necessidade de aumentar os rendimentos. Além de alguns serem, na visão dele, puxados pela falta de trabalho. “Estudos do Sebrae mostram que ainda é muito grande no Brasil a proporção de empresários que criam o próprio negócio por necessidade (cerca de 40%). Esses empreendedores são movidos pelo desemprego ou para complementar a renda familiar e têm, em geral, uma menor qualificação para gestão e para planejar o negócio. Em um contexto de crise, são diretamente atingidos”, atesta.
A redução no consumo foi o principal motivo para as perdas que os pequenos negócios sofreram na recessão. “A crise atingiu em cheio a renda das famílias. Nesse contexto, é natural que elas passem a comprar menos. Uma vez que há uma grande concentração de pequenos negócios no setor do comércio (quatro em cada 10 micro e pequenas empresas estão nesse segmento), é normal que sejam os mais atingidos com a retração do mercado”, afirma o executivo.
Ambiente melhor
Apesar do cenário, há quem consiga vencer os obstáculos, diz o consultor financeiro Sérgio Tavares, especializado em Administração de Investimentos pela Fundação Getulio Vargas (FGV). “Muita gente foi forçada a empreender, mas o importante é que algumas pessoas tiveram sucesso. Enxergaram potencial de prestar serviço ou vender de uma forma inovadora, que empresas tradicionais não estavam conseguindo, e tomaram seu espaço no mercado”, observa.
O presidente do Sebrae destaca que a recente aprovação da Lei da Liberdade Econômica e a criação da Empresa Simples de Crédito favorecem a abertura de empresas de pequeno porte. “Em 2019, aprovamos várias medidas que reduzem a burocracia, facilitam o acesso ao crédito e tornam a atividade empreendedora bem mais simples no Brasil”, comemora.
Mas ainda há muito por avançar, admite Melles. “Mas é importante reconhecer os resultados já alcançados”, afirma. Para quem não se arriscou durante a crise, o executivo diz que agora é um excelente momento. “A recuperação da economia começa a ganhar ritmo. E, com a melhora do ambiente de negócios, o momento é oportuno para quem quer empreender”, argumenta.